segunda-feira, dezembro 25, 2006
Sobre os olhos
O motivo são os olhos. Eles são o espelho da alma, dizem. Então temo que tipo de alma as pessoas possam ter. Porque sempre, é incrível, sempre se faz algo sujo por trás. Não entendo e nunca entenderei porquê. Os olhos só confiam no que vêem, são desconfiados ao extremo, são inseguros, generalizadores, estúpidos e maldosos. Não todos, claro (todo o cuidado para não generalizar é pouco). Mas eles são assim, o espelho da alma e a faca que fere corações.
Se as pessoas não possuíssem olhos talvez as relações humanas fossem baseadas em algo mais sincero que não a aparência e o glamour. Não quero perder nunca este sentido tão importante, mas claro, tudo isto é apenas para reflexão. Não reclamo da divina capacidade de olhar. É agradável, prazeroso, automático. Instintivo, e como alguém poderia condenar isso?
Não é nada disso que falo. O problema é muito mais profundo. Quantas vezes já vi pessoas dizendo que tal viagem à África mudou suas vidas? É diferente olhar com os próprios olhos, sentir todo o sofrimento de outrém em pele própria. Mas não deveria ser assim, chega a ser ignorância, inconsciência. Todos sabem da existência de milhares de sofredores, de variados problemas sociais e não fazem absolutamente nada a respeito, chegam a ser frios e desinteressados. Quando olham uma foto de alguém em pele e osso apenas, ou de uma criança implorando comida com os olhos, essas pessoas choram, comovem-se. Comovem-se naquele momento e depois esquecem de novo... Porque as imagens chocantes não estarão mais ao alcance dos olhos. Isto, sim, deve ser condenado. A memória só apaga o que se permite apagar.
O sentir humano é muito mais poderoso do que parece. Pode ir muito além dos que os olhos vêem, se as pessoas se permitissem. Ser sensível consigo mesmo é muito fácil, natural como difusão facilitada. Difícil mesmo é tentar enxergar o outro e suas necessidades. E este enxergar faz-se com olhos invisíveis, os olhos abstratos da sensibilidade.
quarta-feira, dezembro 20, 2006
FELIZ NATAL

Por que muitos reclamam do Natal? Eu mesma devo ter resmungado alguma vez contra esta data. Mas a verdade é que eu a adoro. Adoro.
Este clima de união me toma, a cidade enfeitada me encanta, uma festa de dimensão mundial assim realmente me impressiona. Eu sei o que há por trás disso. Hipocrisia? Talvez, de alguns, não vou negar que existe. Mas ao meu ver o que o Natal traz de positivo é imensuravelmente maior. É magia. É uma esperança que, digo, as pessoas necessitam. Odeio falar de necessidades, mas o mundo, tão seco e ácido como se encontra, precisa cada vez mais deste tico de esperança, desta mágica, de crianças felizes esperando o Papai Noel. Ah, não venham me dizer que vocês odeiam o Papai Noel. Este é uma figura fofa, de mentirinha claro, mas quem não descobre isso depois? Não é uma mentira maldosa, faz parte da imaginação e fantasia de toda criança. E crianças adoram este tipo de fantasia.
Muitos intelectuais ou pessoas desencantadas falam das festas de fim de ano com certo desdém, com um pingo de amargura, dizem que este espírito de amor é falso porque só existe no Natal e que ninguém deseja as coisas sinceramente. Discordo.
As pessoas são fracas, estamos tão cansados de saber disso... A grande maioria se corrompe com as tentações do cotidiano, deixam-se levar por emoções muitas vezes egoístas. Isso significa que são pessoas inteiramente ruins? Não. Não, não. Acredito que muitos quando falam "Feliz Natal!" dizem-no de coração, simplesmente por estarem num clima de laços.
Acho que esta é a chave. O clima. O Natal tem toda essa magia porque todos se empenham em criar um clima de amor, de amizade, de paz. Todos os sentimentos que realmente importam. Obviamente, existe o lado de data comercial, mas nada é perfeito. Sempre existe a mão capitalista no meio, ou um dedo. Mas lembremos que a data é religiosa. Para os Cristãos, simboliza o nascimento de Cristo (sabe-se que é um dia simbólico, eleito pela igreja, pois ninguém sabe ao certo o dia do nascimento de Jesus). Mas na verdade, nessa data (25 de Dezembro) era comemorada uma festa pagã. Há toda uma história por trás, mas não é isso o que quero discutir. Há muitas provas, para quem lê artigos científicos sobre o assunto, de que um homem chamado Jesus realmente existiu e foi um líder na sua época. Provavelmente era um homem de grande carisma, com uma boa moral e ética. Por tudo que sei, foi um homem admirável. Não afirmo aqui qualquer divindade. Se ele era filho de Deus... eu que vou saber? Não discuto essas coisas. Mas celebrar a vida simbólica de um homem que representa a bondade e o amor em si já é algo muito válido.
É interessante celebrar coisas. Homenagear pessoas... Homenagear a humanidade. Imagine a vida sem tais celebrações. Seria no mínimo sem graça. O importante é que cada um saiba usá-las da melhor maneira, independente de ter ou não religião.
Em minha opinião, não deveríamos olhar o Natal de forma negativa, nunca. Mesmo que seja uma pequena fração do ano, é sempre bonito ver pessoas com um brilho diferente no olhar. E talvez o Natal persista por tanto tempo porque vem em uma tentativa de nos fazer ter este brilho e este amor durante todos os dias do ano.
Eu particularmente não comemoro a data no sentido religioso, apesar de respeitar este. Comemoro porque gosto de ver as pessoas alegres e unidas e deveria sim, ser sempre assim. Mas como nem sempre é, aproveito ainda mais o Natal. Com minha família, torço para que as coisas melhorem... e para que o amor não tenha data de validade.
sábado, dezembro 16, 2006
Retrospectiva & Notícias de mim mesma
A maioria dos meus dias são sempre bons, normalmente sou uma pessoa bem-humorada e amorosa. Sim... mas é que alguns dias ruins no ano, poucos talvez, são o suficiente para tirar a beleza completa do ciclo. Mas por que tem que ser perfeito? Não sei, porém alguns acontecimentos são sim horrorosos, dispensáveis e criam uma imagem suja da qual eu não queria lembrar. A maioria foi drama da minha parte, provavelmente. Mas as pessoas sempre machucando por nada, impressionante. Desejava menos hostilidade.
Não há o que temer... Não há o que lamentar... meu semestre foi pior do que o de costume, mas a primeira metade do ano foi ótima, e em geral eu conquistei muitas coisas boas neste ano, inclusive intelectualmente falando: tive idéias ótimas. Criei muito. Consolidei boas amizades, dei tudo, ou quase tudo de mim. Estou cheia de projetos, e outros eu simplesmente pus em prática,
o que é maravilhoso.
Conheci pessoas de ouro... o Fabiano, o Rômulo, a Polyanna, a Gisélia, o Wellington, a Rosângela.
Pessoas de ouro. Estou muito feliz por isso. Há uns quatro dias eu quis morrer, estava insuportavelmente triste, mas eu sobrevivi, como tantas outras vezes. Neste momento me sinto feliz.
Estou em um curso que nunca imaginei que faria parte da minha vida acadêmica, que é a Fisioterapia. Estou adorando, é algo maravilhoso, útil, humano, importante, interessante. Passei direto e minhas notas foram muito boas. Conheci pessoas incríveis na faculdade.
Larguei o jornalismo por motivos que todos já conhecem... antes mesmo de cursá-lo. Mas ter passado na Universidade Federal já foi uma grande conquista.
No início do ano fiz um período inteiro na Universidade Estadual do MA, o curso de Licenciatura em Música, mas houve incompatibilidades. Porém ainda assim foi muito produtivo, nunca esquecerei daquelas aulas esplêndidas de filosofia, que me fizeram crescer tanto! Também tive contato com pessoas muito boas. Aprendi ainda mais de música, arte que amo tanto.
Boa parte da minha família que mora em Belém-PA veio á São Luís, pude vê-los novamente, foi maravilhoso. Fui muito à praia este ano, fui duas vezes aos Lençóis Maranhenses (que é um paraíso), dancei muito no São João.
Minha bisavó faleceu. Foi algo marcante e sofrido, mas ela estava precisando descansar. Querida Neusa.
Consolidei ainda mais minha amizade com o Fabio e isso talvez tenha sido a coisa mais importante sentimentalmente falando. Também estou sabendo trabalhar melhor meu relacionamento com Lucas, estamos brigando menos e isso é um grande passo. Adoro vocês.
Meu pai conseguiu um ótimo emprego. Ele já trabalhava em vários locais, mas agora conseguiu algo muito mais estável e melhor financeiramente falando. Vamos poder mudar para um novo apartamento no ano que vem, que já está comprado.
Minha mãe me afetou bastante, ela é uma graça, um amor, mas muitas das minhas crises tiveram algo a ver com ela. Talvez porque mãe é a pessoa mais importante de nossas vidas. E eu odeio qualquer desentendimento com ela. Ela está muito empolgada com o novo apartamento e me ajudou muito na organização do meu aniversário. Esteve sempre muito presente, como sempre.
Minha irmã e eu estamos mais unidas que nunca. Tivemos uma briguinha ridícula dia desses, que me deixou muito mal. Mas ela é uma ótima pessoa, e cada vez mais me mostra uma dignidade que eu admiro demais.
Este ano tive várias idéias de conto, escrevi alguns, comecei outros, tive idéias para romance. Vi muitos filmes (mais além virei aqui com o Top dos melhores), fiz as melhores músicas da minha vida até agora, cresci musicalmente falando. Fiz até uma música em parceria, com o Karlus Fabiano.
Comecei, aos poucos, uma coleção de filmes. Nunca baixei tantos álbuns pela internet como neste ano. Foi realmente bastante produtivo artisticamente falando. Até roteiro de filme eu idealizei, algum... alguns.
Hoje eu estava contando quantas músicas eu já fiz (em toda a minha vida)... e o resultado foi aproximadamente 80. Entre letras, melodias e músicas completas (melodia e letra). Mas dessas todas, devo realmente gostar de umas 20, apenas. Já dá para gravar um álbum! Ow!
É, vendo assim no geral não foi tão ruim. Um dia eu me acostumo com pessoas hipócritas e com as decepções da vida. Continuo amando viver, apesar de às vezes querer "morrer um pouquinho". 2006 foi bom. Poderia ser melhor, tive anos bem melhores. Como pessoa foi o ano em que mais cresci. Isso talvez faça dele o melhor ano da minha vida, mesmo que eu não sinta isso tão profundamente.
Que venha 2007 e todas as suas emoções!
quinta-feira, dezembro 14, 2006
quinta-feira, novembro 02, 2006
Ah!...
Possivelmente o bem-estar da humanidade exige a existência de uma classe de escravos. O ascensorista do metrô é uma necessidade eterna. Esse pensamento lhe foi desagradável. Sacudiu a cabeça. Para evitá-lo, acharia algum modo de se opor à superioridade das artes. Argumentaria que o mundo existe para o ser humano médio, que as artes são mera decoração imposta à vida humana e que não a expressam. Nem Shakeaspere é necessário. Sem saber precisamente por que queria desprezar Shakeaspere e chegar à libertação daquele homem que fica eternamente à porta do elevador, arrancou bruscamente uma folha da sebe..."
Passeio ao farol - Virginia Woolf
terça-feira, outubro 31, 2006
Tem fim oligarquia Sarney
Depois de 40 anos no poder, o clã Sarney finalmente caiu. Roseana Sarney não foi eleita.
O manifesto dos estudantes nas ruas, do qual eu tive a honra de participar, foi válido. A esperteza do povo teve valor.
A minha felicidade é tanta que é melhor eu não me alongar.
sábado, outubro 28, 2006
Revolução Maranhense

É com muito orgulho que afirmo ter participado da passeata de número dois do movimento estudantil "Sou estudante, nela não" e ainda "Xô, Rosengana!". Um movimento pelo fim da oligarquia que domina o nosso estado há 40 anos. A família Sarney.
Todo maranhense informado e de bom-senso sabe que todos os governadores eleitos por aqui desde a década de 60 foram apoiados pelos Sarney, quando não eles mesmos. E hoje temos os piores índices sociais do Brasil, especialmente no interior do estado...
Foi emocionante. Três horas de pura revolta e esperança. Muitos jovens, muitas palmas na rua. Rebatizamos a ponte antes chamada José Sarney de "Ponte dos Estudantes". É algo que vai entrar para a história do Maranhão. Cantamos o hino nacional e canções de Chico e Caetano com empolgação. Ao final música e teatro de protesto. Maravilhoso! Inesquecível.
Nota:
Karlus Fabiano e Coutinho, obrigada pelas companhias bastante agradáveis.
quarta-feira, outubro 18, 2006
Música, vício saudável
Só queria indicar algumas coisas e dizer o que ando ouvindo.
Primeiramente, uma banda chamada Editors. É na base do baixo, guitarra e bateria mesmo, nada muito fora do comum. Mas os carinhas sabem tocar de forma límpida e empolgante, energética. Os riffs são muito bons, assim como os solos: tudo muito encaixa muito bem com a voz perfeita do vocalista, meio melancólica, meio Thom Yorke no tom grave. Fazia tempo que eu não me empolgava com uma banda tanto assim (Acho que desde que descobri Magic Numbers e Tristeza, no primeiro semestre).
Outra coisa maravilhosa, profunda e sensacional que descobri foi o poeta da alma chamado Leonard Cohen. O cara é simplesmente foda, fodaço, incrível. Ênfase para a maravilhosa canção So Long, Marianne.
Também estou apaixonada pela voz da vocalista da banda canadense Camera Obscura. Além da voz suave, as letras são inteligentes, meio non-sense, é verdade, mas muito inteligentes. O som é retrô e sei lá mais o quê. Simplesmente aquele som a la Belle & Sebastian. Melodias calmas e fofas, porém profundas.
Baixei algumas músicas do novo álbum do Scissor Sisters e também gostei bastante. Extremamente dançante, sem ser chato e grudento e com uma produção muito eficiente.
Outra coisa que ando ouvindo excessivamente é o duo Kings Of Convenience, mas deles eu já falei aqui, acho.
Ando descobrindo algumas cantoras muito interessantes. Uma delas é a Annie Lennox, de quem todo mundo conhece uma ou duas canções, mas ela é muito mais que isso. Os clipes são bem artísticos e teatrais. A voz de Anne é maravilhosa, poderosa e própria para o tipo de música, meio trágico, mas muito agradável ao ouvido.
Outra é a Bebe. Eu já conheço há um ano ou quase isso a sexy Siempre me quedará, porém baixei outras coisas da cantora espanhola e estou amando, o material dela é bem rico e as letras, marcantes.
Aproveitando minhas aulas de espanhol, vou pôr uma das letras das quais eu mais gosto da Bebe:
Tu silencio
Como quien tira de una cuerda que se romperá,
Tirar, tirar, tirar, tirar, tirar...
Como sin darse cuenta rozar un poco más,
Los ojos aún cerrados para no afrontar
Que el aire es de cristal,
Que puede estallar,
Que aunque parezca extraño, te quiero devorar.
Que el aire es de cristal,
Que puede estallar,
Que aunque parezca extraño, te quiero devorar.
En una esquina de su boca se dejó estrellar,
Como la ola que se entrega a la roca,
Perdida en el abismo de unas manos sin final,
Tan grandes que abrazaban todo su planeta.
Ahora no estás aquí,
Ahora no estoy aquí,
Pero el silencio es la más elocuente forma de mentir.
Ahora no estás aquí,
Ahora no estoy aquí,
Pero el silencio es la más elocuente forma de mentir.
En tu silencio habita el mío
Y en alguna parte de mi cuerpo habitó
Un trozo de tu olor,
En tu silencio habita el mío
Y en alguna parte de mis ojos habitó
Un trozo de dolor.
Ahora estás aquí,
Ahora estoy aquí,
Abrázame para que piense alguna vez en ti.
Ahora estás aquí,Ahora estoy aquí,
Abrázame para que piense alguna vez en ti.
En tu silencio habita el míoY en alguna parte de mi cuerpo habitó
Un trozo de tu olor,
En tu silencio habita el míoY en alguna parte de mis ojos habitó
Un trozo de dolor.
En tu silencio habita el míoY en alguna parte de mi cuerpo habitó
Un trozo de tu olor,
En tu silencio habita el mío
Y en alguna parte de mis ojos habitó
Un trozo de dolor.
Que el aire es de cristal,
Que puede estallar,
Que aunque mis labios no hablen,
Te quiero devorar.
Que el aire es de cristal,
Que puede estallar,
Que aunque mis labios no hablen,
Te quiero devorar.
sexta-feira, outubro 13, 2006
Teoria da Relatividade por Frusciante

É simples. O que tem a ver John Frusciante com Albert Einsten? A resposta é fácil: ambos têm percepção espacial. E ambos refletem, um por meio da matemática e da física, outro por meio da imaginação, sobre esse fluído maluco em que estamos inseridos.
Na belíssima música "Every Person", de Frusciante, o guitarrista diz que todo dia é um dia que já passou e que toda pessoa viva é uma pessoa que está morta. Estas frases podem ter diversas interpretações, mas desde a primeira vez que escutei eu as relacionei com meus bizarros pensamentos sobre universo, tempo, relatividade e coisas que dizem respeito à nós: e eu morro de curiosidade sobre tudo isso. Penso desta forma desde que comecei a questionar sobre origem do universo, sobre tempo e espaço. Adoro a física na prática, só não gosto muito de cálculos, sempre fui fraca nesta parte. A forma é a seguinte: o tempo é fluido mas estático, sempre achei que existem vários planos e ao mesmo tempo em que tudo muda, tudo é sempre a mesma coisa. Neste exato momento eu estou morta, tudo é sempre o presente, futuro e passado não existem, são apenas espaços diferentes. Difícil? Não, por incrível que pareça eu achei alguém que pense parecido comigo: Einsten.
Eu estou morta no futuro porém estou vivíssima também, e no passado eu teoricamente ainda nem existia, mas na verdade eu já estava aqui. Estou aumentando minha curiosidade sobre o assunto e sim, preciso ler mais sobre ele, nem que seja em um livro para leigos e curiosos de plantão. Hoje na aula de psicologia nós tocamos no tópico e sabe aquelas aulas ou conversas profundas que te deixam com a mente meio estranha, uma espécie de medo misturado com fascinação? Foi isso. Senti muito medo, todos nós discutimos inclusive sobre a máquina do tempo que alguns cientistas hoje em dia defendem que é possível de ser feita (Isso é CIÊNCIA e não senso-comum).
Pois é, Frusciante. Pois é, Einsten. A gente se vê pela Idade Média.
"Every day is each day that´s past
Every person alive is everyone who´s died"
domingo, outubro 08, 2006
Mortal Loucura

José Miguel Wisnik e Caetano Veloso
"Na oração, que desaterra … a terra
Quer Deus que a quem está o cuidado … dado,
Pregue que a vida é emprestado … estado,
Mistérios mil que desenterra … enterra.
Quem não cuida de si, que é terra, … erra,
Que o alto Rei, por afamado … amado,
É quem lhe assiste ao desvelado … lado,
Da morte ao ar não desaferra, … aferra.
Quem do mundo a mortal loucura … cura,
A vontade de Deus sagrada … agrada
Firmar-lhe a vida em atadura … dura.
O voz zelosa, que dobrada … brada,
Já sei que a flor da formosura, … usura,
Será no fim dessa jornada … nada. "
Eu simplesmente AMO esta canção-poema!
quarta-feira, outubro 04, 2006
Segredos e Mentiras

Sinto-me como algum dos personagens dos filmes de Mike Leigh. Sou o tipo de pessoa que... Não, na verdade eu não sou um "tipo de pessoa". Assim estaria, eu mesma, rotulando-me. Eu, apenas eu (e não sei mais quem poderia ter características parecidas), gosto de resolver todos os conflitos entre mim e quem quer que seja, ou entre mim e qualquer coisa viva ou não, concreta ou não, na hora. Neste sentido sou imediatista.
Lembro-me que achei fantástico o desfecho de Secrets & Lies, do cineasta antes citado. Senti-me tão presente ali. As coisas precisam ser discutidas, não podem ser deixadas para depois. Não em questão de gostos, opiniões, não falo dessas bobagens. Mas de coisas mais profundas, de coisas que deixam marcas, de coisas que são sérias, sentimentais ou que tenham algo a ver com a integridade emocional daquela pessoa. E ainda, que tenham algo a ver com valores que a mesma prioriza, como honestidade e sinceridade. Alguns segredos, algumas mentiras... podem pesar muito sobre nossos próprios ombros quando revelados. Ou pior ainda, sobre os ombros de outros. Por isso eu tenho evitado guardar coisas dentro de mim (porém nunca fui uma boa mentirosa). Na verdade, sempre evitei, mas agora tenho consciência disso. Não escondo meu estado quando estou magoada. Não entendo quando alguém quer fugir de coisas que precisam ser ditas, resolvidas.
Palavras marcam muito. Não adianta: qualquer pessoa que confie na palavra do outro, ou seja, na sinceridade de outra pessoa, tende a absorver insultos, declarações de amor, ditos de amizade, promessas, ofensas... mesmo que sutis. Eu, ao menos, costumo fazer questão de deixar frases bem guardadas no coração, na mente. Tanto faz. Lembro-me de muitas coisas que amigos ou pessoas queridas e da família me dizem e também das que ouço umas dizendo às outras.
É fato que a linguagem falada é natural, espontânea, mal pensada, automática. Talvez por isso eu fale pouco, ou fale pouco sobre coisas que não devem ser ditas no calor do momento. Tudo deve ser pensado e medido, para que não nasça a partir daí uma rede de mentiras entrelaçadas, de expectativas ilusórias e de frases ditas de forma banal, sem valor algum. Porque é o que acontece. O filme de Leigh mostra isso perfeitamente. Algo que aconteceu há anos atrás, aparentemente sem importância, pode matar alguém que não tente resolver logo o problema, que "empurra com a barriga", que deixa as águas rolarem, sabendo que no fundo o psicológico tem um limite e que esse limite pode ser estourado a qualquer momento. É como uma cadeia contínua, a famosa bola de neve.
Não adianta deixar para depois o que sabemos que um dia terá que ser esclarecido, dito, compartilhado. Não adianta tentar esquecer o inesquecível. De nada vale guardar uma dor, um incômodo dentro de nós. Tudo precisa ser dito. Tudo. Antes que um sopro vire um furacão. Antes que uma formiga nos coma.
terça-feira, outubro 03, 2006
Sobre o resultado das eleições
Era claro, para mim e para qualquer pessoa realista, que Heloísa Helena não ganharia as eleições. Mas infelizmente, a coisa foi pior do que o imaginado. O percentual da candidata do Psol foi menor do que eu esperava. Sim, foi frustrante.
E agora, o que eu esperar para o Brasil, que estará nas mãos de um dos dois candidatos restantes, dois farinha-do-mesmo-saco?
Eu odeio o cinismo do Lula. Mas também odeio a cara de santo do pau oco do Alckmin. E o partido dele(PMDB) é de um histórico que consegue, obviamente, ser ainda mais sujo que o do PT.
Não vou discutir com ninguém quem dos dois é melhor ou pior. Na verdade o que resta é discutir o menos perigoso. É triste admitir, mas acho que votarei no Lula.
Se o Alckmin ganhar, uma nova era de privatizações (que são efetuadas sem o apoio da opinião pública) virá. E isso é bastante perigoso, do ponto de vista de quem se preocupa com a pouca soberania nacional restante. Os acordos com a Alca e outros projetos malucos, ridículos e puramente capitalistas (não mudam em nada a vida do povo) serão provavelmente postos em prática, se o tucano vencer.
É preocupante. Eu odeio o Lula (não como ser humano, como político), e para mim é humilhante ter que se rebaixar a essa opção de votar em alguém que eu repudio.
Existem outras opções, como o voto em branco (não recomendado, pois o voto irá para o mais votado) e o voto nulo, que não conta em nada, é contado como um voto de alguém que não está de acordo com nenhum dos candidatos e partidos envolvidos na eleição. Este último também está dentro das minhas pouquíssimas opções.
Só peço que votem, novamente, com consciência. Procurem ler sobre os candidatos e não deixem se levar pelo calor do momento. Lula é péssimo, sim. Mas Alckmin tem apoio de figuras que simplesmente governaram/governam apenas para elite, bolsa financeira e banqueiros; como o "ilustre" Ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.
Sobre a minha querida, admirada e futura presidente do Brasil (2010 está bem aí), Heloísa Helena disse que não apóia nenhum dos candidatos, assim como eu esperava que ela fizesse. Segundo a mesma seus eleitores "são homens e mulheres livres para votarem em quem quiserem". Ô mulher coerente, essa!
No Maranhão, por algum milagre divino ou por pura sensatez, Roseana Sarney não ganhou no primeiro turno. Jackson Lago disputará o cargo de governador no segundo turno juntamente com a candidata, e eu tenho fé de que ele será o eleito. Não gosto da administração de Lago (é daqueles que só faz as coisas em ano de eleição) mas ainda assim a corrupção no governo dele é menos esmagadora e as propostas, um pouco melhores. Além de que ele nunca fez coligação alguma com os Sarney, o que é admirável.
quinta-feira, setembro 28, 2006
Filmes Delicados

Acabo de assistir ao lindíssimo filme (um semi-documentário) "Camelos também choram" - The History Of The Weeping Camel.
O que posso dizer? Não quero fazer uma crítica técnica, não existe isso para filmes sensíveis. Mas ainda assim a parte técnica do filme é impecável.
É tudo mostrado de forma tão humana e sensível... tão verdadeira. O milagre da música sobre os animais é algo que impressiona.
Como sempre, li críticas ácidas e amargas na internet, provavelmente de gente ácida e amarga, que não entende de sentimentos e elos entre a natureza e o homem.É um filme que merece ser visto. Por gente sensível, claro.
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Tenho visto muitos filmes ultimamente. Entre eles, eu destacaria Manderlay (maravilhoso, entrou para minha lista de preferidos, intrinsecamente); Crianças Invisíveis (outro filme que merece ser visto por gente sensível) e Donnie Darko.
Donnie Darko tem elementos surreais interessantes, um conflito psicológico meio exagerado misturado com visões sensitivas e um personagem principal que beira o insuportável, que chama a mãe de cadela e que se acha o dono da verdade. Mas há algo de realista aí, a amargura e revolta dos jovens, tão retratada em filmes hoje em dia. Eu diria que é um "Efeito Borboleta" com atores um pouco melhores.
segunda-feira, setembro 25, 2006
Serenidade
Este texto falou da serenidade, apenas. Não disse para ninguém se forçar a ser assim. E eu concordei com as palavras. (OBS: Odeio uma frase do texto, mas ela não tira a proeza do mesmo. A frase da qual não gosto é esta: "Nunca te permitas demonstrar que foste atingido pelo petardo da maldade alheia." Para mim, soou falso).
Todo homem sábio é sereno.A serenidade é conquista que se consegue com esforço pessoal e passo a passo.Pequenos desafios que são superados...Irritação que se faz controlada...Desafios emocionais corrigidos...Vontade bem direcionada...Ambição freada...Essas são experiências para a aquisição da serenidade.
Um Espírito sereno, já se encontrou consigo próprio, sabendo o que, exatamente, deseja da vida.
A serenidade harmoniza, exteriorizando-se de forma agradável para os circunstantes. Inspira confiança, acalma e propõe afeição.
O homem sereno já venceu grande parte da luta.
Que nenhuma agressão exterior te perturbe, levando-te à irritação, ao desequilíbrio.Mantém-te sereno em todas as realizações.
A tua paz é moeda arduamente conquistada, que não deves atirar fora por motivos irrelevantes.
Os tesouros reais, de alto valor, são aqueles de ordem íntima, que ninguém toma, jamais se perdem e sempre seguem com a pessoa. Tua serenidade é tua gema preciosa.
Diante de quem te enganou, traindo a tua confiança, o teu ideal, ou envolvendo-te em malquerença, mantém-te sereno. O enganador é quem deve estar inquieto e não a sua vítima. Nunca te permitas demonstrar que foste atingido pelo petardo da maldade alheia. No teu círculo familiar ou social sempre defrontarás com pessoas perturbadoras, confusas e agressivas. Não te desgastes com elas, competindo nas faixas de desequilíbrio em que se fixam.Constituem teste à tua paciência e serenidade.
Assim exercita-te com essas situações para, mais seguro , enfrentares os grandes testemunhos e provações do processo evolutivo. Sempre porém, com SERENIDADE...
(Ângelis/Divaldo P. Franco)
quinta-feira, setembro 21, 2006
Veja a minha alma
Veja a minha alma
Não desejes que uma tragédia
Aconteça em minha vida:
Mesmo que haja a volta dela,
A tristeza sempre tem sua ida
Não desejes, tu
Que eu morra de desejos
Para mim não há glamour
E de ti não quero beijos
Não desejes que eu
Mate-me por conveniências
Isso eu nunca farei!
Só por mim tenho obediência
Não desejes carência
Carência alguma, por minha parte:
Por mais robusta que esta fosse,
Eu só quero tua amizade
Não desejes que eu nade
Em mar de falsos peixes:
Não por eles te amaria
E sou capaz de amar até estes.
Não desejes em mim
Uma personalidade passional:
Não subestime o sentir
Este pode ser intelectual
Não desejes que eu
Necessite da tua presença
Muito menos tu da minha
Vício é a dependência!
Não desejes a mim bom-dia
Quando no fundo só queres
Uma boa companhia...
Não desejes, tu, o meu sorriso
Se este só servir
Como teu próprio abrigo
Não tentes me impressionar
Sê tu mesmo!
Larga esse instinto animalesco
Ama-me, sim; Deseja-me o bem
Como desejarias a qualquer outro
E assim tu vais além...
Valéria.
domingo, setembro 17, 2006
Eutanásia
Pesquisei e pude constatar que existem três tipos de eutanásia quanto ao consentimento do paciente:
-Eutanásia voluntária: quando a morte é provocada atendendo a uma vontade do paciente.
-Eutanásia involuntária: quando a morte é provocada contra a vontade do paciente.
-Eutanásia não voluntária: quando a morte é provocada sem que o paciente tivesse manifestado sua posição em relação a ela.
Hoje vi uma reportagem no "Fantástico" sobre um assunto polêmico. Novas pesquisas científicas indicam que, possivelmente, pacientes considerados em estado vegetativo, coma e outros podem estar conscientes. Algo nunca antes considerado. O paciente recebe estímulos verbais do tipo "Imagine que está jogando tênis" e uma área do cérebro é ativada. "Imagine que está conversando com sua mãe" e outra área é ativada. Como se fosse uma resposta ao estímulo, bastante coerente por sinal. Os mesmos estímulos foram aplicados em pessoas com a saúde normal e os resultados foram exatamente os mesmos.
Alguns médicos ainda resistem a essas novas descobertas, mas os estudos são científicos e estão perto de uma reviravolta no mundo da medicina.
Sempre pensei dessa maneira (que alguém em estado "vegetativo tivesse sim, alguma vida). Por alguma razão, nunca achei que uma pessoa com o coração batendo e com oxigênio no cérebro pudesse estar praticamente morta. De jeito nenhum.
Mas, sobre uma pessoa em estado vegetativo, alguém poderia me perguntar: "Que tipo de vida é essa?". Na minha opinião, vida é algo subjetivo. Você já morreu para comparar a morte com qualquer tipo de vida? E o que é pior? Isso depende de cada um. Por isso sou a favor apenas da vontade do paciente. Se antes do ocorrido, tal vontade for deixada como documento legal.
Talvez ter o mínimo de consciência seja melhor do que nada. Talvez apenas respirar seja melhor que nada. Acho que muita gente pensa da seguinte maneira: "Imagina, todos com pena de mim... melhor morrer!". Por isso disse no início do post: questões como o orgulho pessoal estão envolvidas.
Não sei o que eu escolheria mas, definitivamente, não gostaria que me matassem sem o meu consentimento.
sexta-feira, setembro 15, 2006
Um poema
" Ser " - Carlos Drummond de Andrade
O filho que eu não fiz
hoje seria homem
Ele corre na brisa
sem carne sem nome.
Às vezes o encontro
num encontro de nuvem
Apóia em meu ombro
seu ombro nenhum.
Interrogo meu filho
objeto de ar:
em que gruta ou conchaquedas abstrato?
Lá onde eu jazia
responde-me o hálito:
não me percebeste
porém chamava-te
como ainda te chamo(além, além do amor)
onde nada, tudo aspira a criar-se.
o filho que eu não fiz
faz-se por si mesmo."
domingo, setembro 10, 2006
Sixpence None The Richer

Eu definiria a banda Sixpence None the Richer como o extremo contrário da dor. Apesar de a música ser geralmente melancólica, num ritmo lento, com arranjos que lembram a tristeza, é impossível sentir-se exatamente triste ao escutá-los. É contraditório, eu sei. Mas Sixpence marca. Marca de forma delicada, suave, porém penetra na sua alma bem fundo. É uma sensação, de prazer, inexplicável.
Vou tentar explicar melhor: talvez a música lembre dor e seja originada desta, mas de uma forma tão pura e sensível, sincera, que para as canções são transmitidas apenas coisas positivas, pacíficas.
A beleza dos sentimentos de Matt Scolum é indiscutível. Entendem? Assim sendo, mesmo com uma obra completamente cheia de lágrimas por parte do autor, Sixpence é sempre, sempre uma sensação agradável. Prazerosa. Poderosa. Faz quem ouve feliz. A voz de Leigh Nash acalma. Faz quem ouve feliz. A beleza da música em si, como um todo, compensa qualquer melancolia ali contida.
Para quem está sofrendo por amor, o negócio complica um pouco, porque aí então os sentimentos de Matt podem confundir-se com os do ouvinte. Não sei se indicaria para este caso, é subjetivo. Talvez escutar a banda traria uma sobrecarga muito forte, insuportável para quem já está de coração partido. Mas se você não deixar a música em si misturar-se com sua história pessoal, os None The Richer vão fazer você mergulhar num mar de emoções positivas. Pois, como eu disse, Sixpence não traz dor, apesar da melodia tristonha... traz conforto, uma emoção bastante bela, peculiar. Feliz. E ainda, é como uma expulsão de sentimentos ruins acumulados, é uma expressão através de outrem, é aquela poesia que fala por você e faz a saudade ou qualquer coisa insuportável pular pela garganta e ser substituída pela extrema excitação. Pois uma arte tão perfeita só pode me dar isso: alegria de viver.
Tension is a passing note - Sixpence None The Richer
Eu mato quando te esqueço à distância?
Bêbado demais no veneno das estradas sem fim
E as incontáveis barras fumegantes
Mas a tensão deve ser amada
Quando é como uma nota momentânea
Para uma linda, linda melodia
Eu nos mataria, obstruindo minhas veias?
Lançando dentro, uma heroína especial
Para a busca e deslocamento?
sábado, setembro 09, 2006
Cecília Meireles
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos, severos conosco,
pois o resto não nos pertence."
(Cecília Meireles)
Digam-me, não era Cecília um ser extremamente pensante e sensível? Uma filósofa incrível. Na minha opinião ela era tanto filósofa quanto poetisa.
Concordo plenamente quanto a idéia de recompensa e glória. Paremos de pensar em fazer coisas só para ver inflar o ego. Ou pensando no retorno. Sintam-se bem consigo mesmos e esqueçam essas falsas idéias de felicidade. Amemos (em todos os sentidos) quem realmente amamos, deixem-se desfolhar, como diria Cecília. A felicidade não está no retorno apenas, está principalmente em dar. Dar, doar, compartilhar. O retorno é ótimo, mas não devemos fazer as coisas apenas pensando nesse sentido.
"É preciso não esquecer de ver a nova borboleta nem o céu de sempre"
Outra frase incrível. É preciso ter sensatez para amar o velho tanto quanto o novo, e não desvalorizar um em prol do outro.
E vejam como ela é crítica, dizendo que devemos esquecer um pouco o pulsar de nossas próprias veias. Esse poema tem uma conexão incrível como o meu texto, que postei dias trás, "Sobre o teu sentir". Quando eu digo: Sinta o pulsar da veia alheia e o sal da lágrima de José", quero dizer o mesmo que a Meireles quando ela diz: "O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso. "
segunda-feira, setembro 04, 2006
Sobre o teu sentir

Para ti, calma é tédio. Para mim, ela é vida. Para ti, paixão e amor são o mesmo. Em mim, eles discernem por completo.
Tu entras em ti como alguém com fome de tudo, como se aí dentro vivessem todas as outras coisas e como se nada externo fosse realmente orgânico. Uma folha e nada são a mesma coisa. Não tens sensibilidade para perceber a vida da folha. Os ramos, quase sanguíneos... Ela respira por nós.
És tão capaz. Por que canalizas atenção para as coisas sem real importância? O externo é tão ilusório quanto tua própria carne. Concreto, então. Substancial. Necessitas tempo e reflexão. A vida não é notada quando passas por ela tão rápido. E de nada adianta tanta sensibilidade e amor guardados apenas para irem à tua própria direção.
Falo isso sem saber ao certo o por quê. Eu queria, talvez, que percebesses a intensidade de cada coisa viva. E até do inanimado. O mundo não poderia desperdiçar tais possibilidades. Não, não poderia ser tão robotizado e limitado.
Gosto de harmonia e de paz, percebes? Mas a primeira não implica algo simplório. Dentro de um universo existem muito mais elementos que em uma tabela periódica. Pois nesta estão só os ingredientes primários! Há toda a consequência. E existem as não-consequências, que vai lá saber se é coincidência ou acaso. Há o capuccino e há a jangada na orla baiana.
É tudo diferenciado, porém com enorme potencial harmônico. Tudo pode se encaixar perfeitamente e eu queria que tu te encaixasses nisso, nesse folhetim-celular chamado Humanidade & CIA ou Todas as Coisas Sensíveis ou ainda, Vida. Ajuda-me a montar esse quebra-cabeça. Olha para fora, sente o pulsar da veia alheia e o sal da lágrima de José.
Valéria.
sábado, setembro 02, 2006
Xô, Sarney!

Mais uma adepta.
Antes dessa polêmica de repercussão mundial, eu já estava tentando publicar um texto-alerta sobre Sarney & Cia no site Duplipensar, mas até agora não obtive resposta. Para a minha felicidade fiquei sabendo da história da jornalista do Amapá e de sua irmã, que botaram a boca no trombone! Senti-me menos solitária nesta indignação para com José e Roseana Sarney, dois populistas ditadores com cara de santinhos e caráter carente de óleo de peroba.
Para quem não ficou sabendo da história, aqui está um artigo sobre, que saiu há uns 3 dias atrás no Jornal Pequeno do MA.
http://www.jornalpequeno.com.br/2006/8/31/Pagina41300.htm
Blog da jornalista Alcinéa Cavalcante:
http://alcineacavalcante.blogspot.com/ (esse é o novo, pois o antigo foi denunciado pelo ditador! Hail, Hitler!!)
Um blog de transição:
http://alcinea.blig.ig.com.br/ (Nesse vocês podem entender melhor o que se passou).
O blog original e o blog da irmã de Alcinéa, Alcilene, foram retirados do ar por mando do bigodudo.
domingo, agosto 27, 2006
Sophie Scholl

A Sophie do filme, representada por Julia Jentsch.

Li críticas sobre o filme (Uma Mulher Contra Hitler - Sophie Scholl, 2005) um tanto pessoais, que me deixaram bastante irritada. As pessoas costumam generalizar ações tomando por exemplo elas mesmas e quando algo é diferente do usual, normalmente é tachado de mentira, algo falso, hipócrita. Li um comentário ridículo em um blog dizendo que os personagens fizeram aquilo por si mesmos. Perder a própria vida por si mesmo? Em troco de quê? Mal poderiam eles imaginar a repercussão de seus atos, que viria tanto tempo depois. Nunca, jamais, falem baseados apenas em si mesmos. Aliás, essa é uma das leis de qualquer filosofia. Uma lei básica.
A verdade é que a maioria das pessoas se trai o tempo inteiro, trai as próprias convicções por fraqueza, e quando alguém segue a linha contrária parece algo tão inacreditável que dizem "não, essa pessoa não é humana, onde estão suas fraquezas?", como se ser humano fosse ser necessariamente fraco, confuso ao extremo, como se não deixar-se corromper fosse algo impossível. É só querer. Mas, em grande parte, o comodismo acaba falando mais alto.
Claro que é um filme fictício. Claro que tem algo de subjetivo, da visão do roteirista e do diretor. Porém, eles contaram uma história baseada em relatos históricos. E eu simplesmente caí de amores, estou de queixo no chão, extasiada, apaixonada pelos irmãos Scholl. Eu queria dizer algo a eles, não sei exatamente o quê. Sempre quero dizer algo às pessoas, sempre quero agradecer àqueles que vão além do corpinho próprio. E eram tão poéticos!
Atuação incrível de Julia Jentsch, uma atriz que já havia me chamado atenção anteriormente em The Edukators.
O filme é maravilhoso, apesar de muitíssimo lento. Filme para quem se importa com qualquer coisa que não seja o próprio mundo particular.
quinta-feira, agosto 24, 2006
Maria de Verdade

De alguma forma relacionei o maravilhoso filme Abril Despedaçado, de Walter Salles, com a letra de Maria de Verdade, canção igualmente bela, interpretada por Marisa Monte.
Esta composição tem um lirismo ímpar, é pura poesia. Chega a perfumar o ar do ambiente.
Maria de Verdade
Composição: Carlinhos Brown
Pousa-se toda Maria
no varal das 22 fadas nuas lourinhas
Fostes besouro Maria
e a aba do Pierrot descosturou na bainha
Farinhar bem, derramar a canção
Revirar trens, louco mover paixão
Nas direções, programado e emoldurado
Esperarei romântico
Sou a pessoa Maria
Na água quente e boa gente tua Maria
Voa quem voa Maria
e a alma sempre boa sempre vou à Maria
Farinhar bem, derramar a canção
Revirar trens, louco mover paixão
Nas direções, programado e emoldurado
Esperarei romântico
Tou vitimado no profundo poço
na poça do mundo
do céu amor vai chover
Tua pessoa Maria
Mesmo que doa, Maria
Tua pessoa Maria
Mesmo que doa, Maria
Farinhar bem, derramar a canção
Revirar trens, louco mover paixão
Nas direções, programado e emoldurado
Esperarei romântico
Tou vitimado no profundo poço
na poça do mundodo céu amor vai chover
Tua pessoa Maria
Mesmo que doa, Maria
Tua pessoa Maria
Mesmo que doa, Maria
Maria, Maria, Maria...
domingo, agosto 20, 2006
Do you realize?

Nossa. Acho que encontrei a música da minha vida (ou uma das). Eu já a conhecia, mas nem dava bola para tal. Talvez não tivesse prestado atenção ou algo assim. Então um dia desses escutando a música no carro, parei para ouvir a letra direito. Porra (desculpem o palavrão)! Muito, muito boa. É da banda Flaming Lips, que tem uma obra bastante convincente, por sinal. Quero baixar mais coisas deles. Conheci a banda no começo do ano, quando a MTV transmitiu parte do show deles no Brasil.
Somente agora viciei em "Do you realize?" e também passei a valorizar mais a melodia. O "ah, ah, ah" do fundo toca lá no meu encéfalo. Ou será no meu ilíaco? Bom, no coração ela toca. Fundo.
"Você se dá conta de que tem o rosto mais bonito?
Você se dá conta de que estamos flutuando no espaço?
Você se dá conta de que a felicidade te faz chorar?
Você se dá conta de que todo mundo que você conhece morrerá um dia?
E ao invés de ficar dizendo adeus, deixe-os saberem
que você se dá conta de que a vida é curta
E que é difícil fazer as coisas boas durarem
você se dá conta de que o sol não se põe
É só uma ilusão causada pelas voltas do mundo
Você se dá conta
Você se dá conta de que todo o mundo que você conhece morrerá um dia?
E ao invés de ficar dizendo adeus, deixe-os saberem
que você se dá conta de que a vida é curta
E que é difícil fazer as coisas boas durarem
Você se dá conta de que o sol não se põe
É só uma ilusão causada pelas voltas do mundo
Você se dá conta de tem o rosto mais bonito?
Você se dá conta?"
quinta-feira, agosto 17, 2006
Que belo, belo dia!

Heloísa nas ruas de São Luís.
Eis que saio da aula de biofísica às 12:40 já com o pensamento empolgado e eufórico, na expectativa de ver pessoalmente uma mulher que admiro em demasia. Heloísa Helena em São Luís! Foi a oportunidade que eu esperava há um bom tempo. Queria dizer olhando nos olhos dessa guerreira o quanto eu acredito nela.
Não, não sou uma groupie idiota que sai atrás de alguém pela fama. Fui pelo caráter. Pelo futuro de um país. Pela minha esperança e pela esperança de todo um povo. Quem tem alguma sensibilidade sente na alma quando alguém fala com sinceridade. Eu sinto isso em Heloísa como talvez só tenha sentido com duas ou três pessoas além dela.
Às quatro vou para o centro e vejo ao longe bandeiras vermelhas e vozes gritando com fé, vindo na minha direção. Mais precisamente na Rua Grande. Pessoas simples na aparência mas que com certeza têm bastante inteligência para apreciar propostas tão radicais e humanitárias. Um número considerável de pessoas. A rua é comercial, então muitos curiosos se amontavam nas calçadas para ver aquele comício, que muito mais era um protesto do que um comício em si.
Então, depois das primeiras bandeiras, logo à frente da passeata, vejo caminhando naquela rua estreita e de pedras, aqueles cabelos amarrados, a blusa branca, os óculos, o sorriso. Heloísa!
Eu estava na calçada como os outros, para dar passagem ao pessoal do partido. Aceno para ela, que para a minha surpresa veio à minha direção, deu-me um abraço e escutou meus elogios e minha frase: Eu confio em você. "Obrigada, meu amor, muito obrigada".
Aaaaaaaaaaaahhhhhhhh! Muito bom poder ter um contato tão próximo com uma pessoa em que você deposita grande parte da sua fé. E eu realmente confio naquela mulher.
Logo após, arrumei uma bandeira do P-SOL e junto com militantes deste e do PSTU, segui na passeata, muito honrada por sinal. Gritávamos: Maranhão presente, Heloísa presidente!
Ela subiu no carro de som (um carro bem simples, por sinal) e esperou pacientemente todos os candidatos a deputados e outros cargos falarem, enquanto dava autógrafos e chupava uma laranja. Ela estava com a aparência meio cansada, mas não deixou de sorrir um minuto.
A expressão serena e simpática se transformou totalmente quando Heloísa começou seu discurso. Ela fala sério. Quase se esgoela. Perde o fôlego. Transborda emoção.
Foi muito, muito bom. Sem dúvidas, meu voto é para ela. Não pretendo aqui influenciar ninguém. Estou apenas expressando um direito. Só espero que as pessoas estudem os candidatos. E não só as propostas, mas a carreira política de cada um. A ficha é limpa? As palavras são coerentes com as ações? Isso é o que importa.
Frases inesquecíveis:
-"Eu sou socialista. O socialismo é o oposto do que temos atualmente, sua essência é tudo o que diz respeito à HUMANIDADE (eu falei esta palavra junto com ela, pois é mais pura verdade. Por que alguns devem ter mais que os outros? Isso é ridículo, é um crime contra a noção de humanidade). Mas não vou enganar ninguém dizendo que vou implantar um regime socialista no Brasil. Não! Não posso, até porque nenhum país do mundo tem atualmente o verdadeiro socialismo e isso teria que ser uma mudança aceita pela maioria."
-"Eu sou mulher de VERGONHA NA CARA E AMOR NO CORAÇÃO!"
-"Tem gente dizendo aí que só gente culta e com estudo votaria em Heloísa Helena. Isso é um grande preconceito. Vamos provar que o Nordeste pensa!"
-"Eu respeito e sei da importância de cada deputado, senador, parlamentar. Todos colaboram. Mas (ao contrário de Lula), se eu tiver a honra de chegar à presidência, durante o meu governo EU VOU GOVERNAR (batendo no peito)!"
Esta última frase me deu um alívio tão grande. É essa descentralização de governo que engana o povo (que mal sabem para que servem tantos cargos) e impede que vejam os verdadeiros culpados de mensalões, sanguessugas e outras ilegalidades tão conhecidas por nós. Precisamos de um líder mais convicto, menos inseguro, mais presente, com mais personalidade. Que saiba ouvir mas que tenha capacidade de pensar e de não se corromper, de não entrar no sistema de fraudes apenas para se manter no poder. Temos que pensar nisso. Lula é um covarde, talvez não um ladrão, mas um cúmplice. Um traidor de princípios.
terça-feira, agosto 15, 2006
The long and winding road

Adoro essa música. A letra é bonita, mas o que me emociona mesmo é a melodia, o arranjo perfeitamente elaborado, sublime. Minha alma se derrete ao ouvi-la. A voz do Paul encaixa perfeitamente, me dá calafrios, enfim...
The Beatles - The Long and Winding Road
Composição: Paul Mccartney e John Lennon
A longa e sinuosa estrada que conduz até sua porta,
Nunca desaparecerá.
Eu [já] vi aquela estrada antes,
Ela sempre me conduz até aqui, me conduz até sua porta.
A selvagem e tempestuosa noite que a chuva lavou,
Deixou uma poça de lágrimas chorando pelo dia.
Por quê me abandonar parado aqui?
Deixe-me conhecer o caminho.
Muitas vezes eu estive sozinho e muitas vezes eu chorei.
De qualquer modo, você nunca saberá
Os muitos caminhos que tentei.
Mas ainda eles me conduzem de volta
Para a longa estrada sinuosa.
Você me deixou parado aqui há um longo, longo tempo atrás.
Não me deixe esperando aqui, conduza-me até sua porta.
Mas ainda eles me conduzem de volta
Para a longa estrada sinuosa.
Você me deixou parado aqui há um longo, longo tempo atrás.
Não me deixe esperando aqui, conduza-me até sua porta.
Sim, sim, sim, sim...
domingo, agosto 13, 2006
Degradação
Há espaço para a tristeza
Pouco espaço para a esperança
Tempo encurtado para a infância
Temo ser inundada por esse nojo
Sinto repugnância por esse estorvo:
Tudo aquilo que pela mão do homem passa
Inegavel e tristemente, estraga
Também tenho medo das máscaras
Que confundem-se na transparência do meu ser
Meu olhar te dirá tudo o que queres
E tudo o que não queres saber
Por que o homem se auto-degrada?
Onde andará o respeito por si mesmo
E as virtudes outrora prometidas
Que como a verdade, andam oprimidas!?
Uma erupção de fúria me toma
Posso ser alegre, posso ser humana
Tenho instrumentos de expressão sem veneno
E ainda assim não posso salvar o caráter alheio.
sexta-feira, agosto 11, 2006
O Haiti é Aqui

HAITI
Composição: Caetano Veloso e Gilberto Gil
Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres, são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
sexta-feira, agosto 04, 2006
A revolução dos bichos

Normalmente não comento neste blog sobre os livros que leio, porém, alguns me fazem abrir excessão. Acho que que todos percebem que sou bastante crítica, não sei se uma boa crítica, mas sei que procuro analisar todos os lados de qualquer questão. Não obstante, procuro ver também os objetivos do que analiso, pois dependendo da intenção (se esta for clara) do autor da ação/obra minha opinião pode se tornar flexível.
Esta semana tive o imenso prazer de fazer a leitura de A Revolução dos Bichos, de George Orwell. Esta foi minha primeira leitura do autor e tive uma primeira experiência maravilhosa.
Vou confessar algo a vocês. Eu gosto de pessoas que sabem o que querem. Que sabem expressar o que querem. Talvez por consequência disso, gosto que o objetivo da obra de arte que analiso seja bem claro e direto. Desgosto quando autores ou cineastas falam, falam e não dizem nada. Por outro lado, uns não dizem nada (ou seja, não usam diálogos ou não enchem linguiça enganando o público com escritas intelectualmente perversas, tentando parecer difícil) e acabam expressando uma verdadeira mensagem. Assim foi meu contato com o livro de Orwell. Logo nas primeiras páginas eu percebi um senso crítico aguçadíssimo, uma linguagem clara e simples, sem enrolações, sem enfeites extras desnecessários. Ele não tenta parecer um escritor de vasto vocabulário (apesar de que eu não duvido de seus conhecimentos gramaticais, pois o autor estudou em escolas bastante valorizadas e soa como um verdadeiro pensante). Isso já contou pontos positivos para a minha visão sobre o livro, já que o principal objetivo da literatura é comunicar e para isso é necessária a clareza.
Aos poucos, talvez antes da metade do livro, você acaba tendo idéia do foco da crítica. Mas isso não torna o livro previsível, já que a delícia da prosa de George Orwell está em cada linha, independentemente do conjunto. Apesar de que em alguns momentos você possa imaginar mais ou menos o que possa acontecer, sempre há algo de incrível, de sujo (no comportamento dos personagens) , de novo, criativamente falando. Achei o livro bastante criativo. Personagens que poderiam ser humanos na figura de animais. Retratos de uma sociedade corrupta e rotulada. Muitos personagens representam rótulos, mas se você for pela linha da sutileza de Orwell, perceberá que os rótulos são os próprios indivíduos que criam. Hierarquizações baseadas no egocentrismo, na perca da noção de valores.
A Revolução dos Bichos é esplêndido. Uma mostra demasiadamente convincente dos caminhos que levam os homens à corrupção, e daí a outras desgraças piores ainda.
Sim, é uma obra esquerdista, mas que com delicadeza e humanidade (sem radicalismos)
consegue mostrar a realidade crua, pondo em vista o lado perigoso de vários sistemas políticos e de vários comportamentos tão usuais dentro de nosso cotidiano.
Nota: O livro é bem pequeno. Indico para quem não gosta de livros grandes. Fiz a leitura em três dias, mas poderia ler muito mais rápido, já que a história prende demais. Porém, com o início das aulas de Fisioterapia esta abreviação não foi possível. Espero que alguém se interesse, pois gostaria muito de conversar com alguém sobre este livro.
domingo, julho 23, 2006
Qual a sua utilidade?
Em uma das minhas aulas de filosofia, sempre muito produtivas, a professora citou o caso de uma mulher que entrou em profunda depressão por causa de sua idade. Segundo a própria, ela não tinha mais "função" nenhuma neste mundo, seus filhos estavam educados e morando sozinhos, ela estava separada, tinha um emprego humilde e poucas atividades. Mas reflitamos: Como essa mulher se enxerga? A resposta é fácil... ela se enxerga como um objeto, algo que precisa ter uma utilidade "pública", caso contrário, é preferível a morte.
Não é necessário irmos muito longe. Nós costumamos nos ver dessa maneira muitas vezes. Costumamos nos sentir bem apenas quando outra pessoa dá o braço a torcer por algo que venha de dentro do nosso "eu". Porém, o "eu" é muito mais auto-sustentável do que parece. Não estou aqui pregando o individualismo, pelo contrário. Mas temos que gostar do lado humano da pessoa, sabendo separar sua "função" dentro de uma sociedade, a qual eu preferiria chamar de colaboração, da sua singularidade dentro do que podemos chamar de "raça humana". Odeio a frase "eu preciso de você". Está aí algo que nunca quero escutar de ninguém querido. Precisar não é gostar. Depender não é amor. Pensem sobre isso. Pior é que muita gente se sente o máximo quando escuta o suposto "elogio". Muitos se aproximam dos outros pela utilidade que a nova pessoa terá na sua vida. Não importa o quê, mas vários indivíduos se aproximam dos outros com segundas intenções. Pelo dinheiro, pelo corpo, pela beleza, pela necessidade (nem sempre real) de ter alguém perto (mesmo que não haja real afeição).

A maior prova disso é o tratamento que muitos de nós dá aos idosos. Jogamos tudo que consideramos velho no lixo. O velho namorado, a velha cidade, o velho disco, a velha doméstica. Como se o velho fosse necessariamente ruim. Ao contrário do que dizem por aí, as pessoas não tem medo de mudar. E nem devem. Mas o que não deve acontecer é a troca de valores constante, sem mais nem por quê. O ser "humano", hoje em dia, só vive da novidade. Não sabe valorizar o que está ao seu redor, dizem enjoar, cansar. A magia da vida está em ver tudo como se fosse a primeira vez. Mesmo sendo a milésima.
Cuidemos dos nossos vovôs e vovós com todo o amor e carinho. E tratemos bem qualquer pessoa de mais idade. Eles são muito mais experientes, acreditem, e merecem nosso respeito. Os idosos não são inválidos. Esse termo é ridículo e mostra como a humanidade está presa à idéia de emprego, de prestamento de serviço a um sistema corrupto e devastador. Ou estamos muito preso aos outros. E devemos nos gostar (quando possível) e nos respeitarmos mutuamente, mas sem dependência por utilidades oportunistas. Não importa o que você seja. Escritor, pedreiro, cineasta, dentista. Não importa. Não é sua profissão que vai validar você. É o seu "eu".
Descobri a frase da minha vida numa música da Parafusa: "Pode crer, meu amor, eu consigo achar graça no feijão e arroz". Tem tudo a ver com esse post. Sim... Eu consigo ver graça no velho feijão com arroz.

sábado, julho 22, 2006
Lar, doce lar

Essa é a vista da sacada do meu apartamento, tirada através do vidro da janela do meu quarto. Meu bairro fica meio longe do centro da cidade, é um bairro relativamente calmo e aconchegante. Vejo essa vista há muito tempo e nunca me canso. É simples, mas eu gosto. A mata antes era maior, já diminuiu bastante. Gosto do fim da tarde, quando o céu fica multi-color. Gosto de ver os pássaros voando e o movimento das nuvens, bem lento. Gosto de ver o vigia lá embaixo e as pessoas voltando do trabalho. De ver casinhas ao longe. E de me embalar na rede, na sacada.
quarta-feira, julho 19, 2006
Aberdeen
Espero que percebam a crítica inserida nele e que entendam meu alvo (apesar de isso ser só o começo)
"Ano 2025. Aberdeen checa a caixa de entrada. Não acredita. Checa novamente e expele lágrimas de ódio. Um semi-grito ecoa pela sala cheia de livros antigos e com cheiro de ar-condicionado. Aberdeen coleciona tanto os clássicos quanto os mais contemporâneos. Muitas livrarias e gráficas estavam fechando e ela aproveitava os últimos exemplares mundiais antes da extinção completa desses amontoados de coisas escritas sobre qualquer assunto, em ordem aleatória ou não, mas organizadas em páginas numeradas e coladas a uma capa dura que as juntavam, formando então... um livro.
Uma nova era cultural nascia, a era E. E-mail, E-books, E-kisses, E-food, E-etc. Os livros entravam em extinção não por causa da falta de papel e muito menos por motivos ecologicamente corretos. Sobreviviam ainda algumas matas e reservas onde faziam reflorestamento contínuo, visando o lucro constante através de folhas brancas. O motivo da lenta morte era mesmo a falta de leitores. O comodismo havia tomado completamente os chamados seres humanos, que preferiam ler ao computador; sem ter que estender os braços, sem ter o árduo trabalho de virar folhas, sem ter que ir até uma livraria e, principalmente,
sem ter que gastar dinheiro.
Aberdeen havia escrito um E-book bastante trabalhoso, com mais de 300 páginas de Microsoft Word e agora um E-charlatão qualquer estava assumindo suas palavras. Tão profundas. Tão pessoais. Como alguém poderia ter escrito isso além de mim? Como posso perder subitamente meus direitos autorais?
Um golpe. Provavelmente de um hacker. Sem mais nem menos os originais sumiram de seus arquivos e foram publicados muito antes do planejado. Para completar, com a assinatura de outra pessoa. Uma tal de Mashee Clubey.
Aberdeen manda um pedido virtual para o Mc'Donalds mais próximo e dentro de cinco minutos ela está robotica e compulsivamente pondo batatas fritas em sua boca, num acesso de desespero mortal. Lanche tamanho GG, coca-cola como um vício, mastigar para evitar violências
maiores. Mastigar com força e raiva. De repente, ela percebe sua insanidade e vê algo de poético em tudo isso. E ao ver poesia no caos ela pensa: "Estou na fronteira entre a lucidez e a loucura."
terça-feira, julho 18, 2006
Dona Neusa Sá

A morte não é feia. Nem bonita. É natural, apenas. E mesmo quando natural, triste. Triste para nós que pouco a entendemos.
Só quero registrar neste meu caderno virtual a passagem de uma pessoa muito querida para outro plano. Para um plano de paz, a devida paz merecida por alguém que ajudou tanto aos outros de coração. Minha querida bisavó, Neusa.
Já era anjo na terra. Agora só criou asas.
segunda-feira, julho 10, 2006
Sobre mim
Minha sinceridade incomoda, nunca consigo ficar calada quando acho algo injusto (obviamente, posso estar errada). Normalmente falo pouco pois sou introspectiva, perco-me em meus divertidos pensamentos. Pensar é demasiado necessário e muito mais coerente do que apenas sentir. Pensar NÃO enlouquece, como muitos dizem. Na verdade, pensar cura. Ter tempo ocioso é fundamental para tais reflexões. Assim você se acha, como eu tenho me achado. Quando você está bem consigo mesmo dificilmente se sente sozinho.
Sou uma metamorfose ambulante, porém um pouco diferente do Raul Seixas. Mudanças são naturais, nunca somos exatamente os mesmos, mas por outro lado, carregamos algumas coisas (positivas ou não) dentro de nós desde que nascemos até o momento da nossa morte. É o que se chama de essência. Eu sei, mais ou menos, qual é a minha. Digo isso porque já passei por diversas fases, interiores e exteriores. Minha infância foi feliz, brinquei até dizer chega. Brincava todos os dias. Via muitos desenhos animados e desde cedo gostava de ler. Também adorava desenhar. Depois fui patricinha, metaleira(pura influência), depressiva (hormônios), rebelde, romântica, punk... Rótulos típicos da adolescência. Mas tudo me deu um pouco de experiência. Não, não sou maria-vai-com-as-outras, mas eu queria me achar pelos olhos alheios, o que é muito errôneo. Hoje em dia escuto Bob Marley e escuto Beethoven. Escuto Placebo e Chico Buarque. Visto-me de qualquer jeito e sou feliz assim.
Adoro jornalismo, estar informada sobre tudo (desde artes até ciências), adoro ler. Até do pior livro posso extrair algo bom, mesmo que depois eu critique muito (costumo achar os gênios medíocres). Não tenho ídolos, ninguém é melhor que ninguém.
Adoro cinema mas tomo cuidado para que isso não se torne um vício, porque é uma das melhores invenções humanas, depois da música, é claro :) Música é minha maior paixão, artisticamente falando, fervorosa!
Amo minha família incondicionalmente. Tenho poucos amigos porque não posso dar devida atenção para todos igualmente e para mim relacionamentos precisam de atenção e companheirismo. Assim sendo prefiro ter poucos mas com qualidade.
Depois de uma espécie de namoro com o luxo e com grandes ambições (FRAQUEZA humana), tive a sorte de perceber as ilusões materiais e hoje em dia clamo por uma vida simples. A vida para mim está no presente e consiste em valorizar tudo de bom que nos é apresentado, conciliando tudo isso com responsabilidade.
O amor, para mim, só é verdadeiro quando altruísta e nada tem a ver com apego ou dependência.
Acho que deu para resumir um pouco do que sou.
sexta-feira, julho 07, 2006
Viva a Vida
Hoje é o aniversário da minha mãe. A pessoa que mais amo no mundo! 54 anos. Só queria deixar registrado o quanto esse mais um ano de vida é importante para mim, para ela, para o mundo, que fica mais lindo ainda com a presença de Regina Célia Sotão Ferreira.
Por outro lado, minha bisavó continua na UTI. Hoje eu fui visitá-la. Ela já não tava muito lúcida antes, agora muito menos. Mas obviamente, ela sente as coisas. Mexi no cabelo dela, falei um pouco... Troquei as meias. É uma situação muito chata, claro. Ela é uma pessoa incrível. Era toda cheia de vida. Tem 92 anos e já está internada há 2 semanas... Se fosse outra pessoa, já não teria resistido tanto tempo, ainda mais na UTI, e com essa idade.
Eu já havia a visitado, mas não ainda na UTI (quando a visitei, ela ainda estava no quarto). É uma experiência bem forte e claro, nada agradável. Não estou falando isso aqui para fazer drama. Doenças e morte fazem parte da vida, eu estou preparada para qualquer coisa, mas no fundo tenho muita esperança de que ela consiga sair dessa, pois é muito amada por todos nós. Pro meu pai então, é uma segunda (ou primeira) mãe.
Nessas horas tenho mais certeza ainda de que a vida vale a pena. Se não valesse, ninguém lutaria tanto por ela. Todos (ou quase todos) querem viver. Lutam por isso. A vida é boa e não, não duvido disso. Mas é vendo assim, a morte tão de perto, que valorizamos ainda mais o fato de estarmos vivos.
Vi muita coisa triste no hospital. Do lado da minha avó tinha uma menina de uns 13, 14 anos. Imagina, uma menina tão nova na UTI! Ela gritava de dor. Insuficiência renal, fiquei sabendo. A perna dela estava terrível. Fiquei com muita vontade de conversar com ela... Olhei nos olhos da garota, mas fui incapaz de trocar palavras, fiquei com medo de ela pensar que eu estava com pena dela, quando na verdade eu só queria mostrar alguma solidariedade. Alguns pacientes, infelizmente, ficam sentindo pena de si mesmos, e acham que todos sentem o mesmo por eles. Ou tornam-se rebeldes... É muito difícil. Mas da próxima vez tento puxar papo. Com certeza, se essa garota sobreviver (e creio que sim!) ela irá aproveitar cada minuto de sua vida.
Temos que agradecer (se não confiam em Deus, agradeçam ao acaso, à natureza, a qualquer coisa) por estarmos vivos. Não esperem estarem à beira da morte para valorizar a vida. Eu imploro isso a vocês.
segunda-feira, julho 03, 2006
Better, Beta, Bethânia

Todo mundo sabe que a Maria Bethânia é irmã do Caetano. Que dupla, hein? A mãe deles deve ser muito orgulhosa :)
Continuando o assunto Caetano Veloso, hoje escolhi postar outra letra da qual gosto bastante. O nome da música é Maria Bethânia e foi escrita na língua inglesa (como outras - poucas- de Caetano). Acredito que essa música tenha sido escrita durante a ditadura militar, quando Caetano foi exilado (que absurdo) pois contestava o sistema ditatorial em suas canções.
Reparem na criatividade com a qual ele joga as palavras, novamente. Esse cara é muito bom. E a melodia dispensa comentários.
Everybody knows that our cities were built to be destroyed
You get annoyed, you buy a flat, you hide behind the mat
But I know she was born to do everything wrong whith all of that
Maria Bethânia, please send me a letter
I wish to know things are getting better
Better, better, Beta, Beta, Bethânia
Please send me a letter
I wish to know things are getting better
She has given her soul to the devil but the devil gave his soul to God
Before the flood, after the blood, before you can see
She has given her soul to the devil and bought a flat by the sea
Maria Bethânia, please send me a letter
I wish to know things are getting better
Better, better, Beta, Beta, Bethânia
Please send me a letter I wish to know things are getting better
Everybody knows that it’s so hard to dig and get to the root
You eat the fruit, you go ahead, you wake up on your bed
But I love her face ‘cause it has nothing to do with all I said
quarta-feira, junho 28, 2006
Analisando Caetano Velas e Veludo

Poucos artistas me emocionam tanto quanto Caetano, com sua voz aveludada e suas letras aparentemente sem nexo algum, algumas que talvez nem ele mesmo entenda.
O que eu mais gosto em Caetano são as composições como um todo, o jeito que ele brinca com as palavras e rimas (rimas ricas) dentro de melodias bastante diferenciadas, de compassos complicados e ritmos únicos. A verdade é que ele tem um swing sofisticado, um jeito de fazer arranjos vocais totalmente original, assim como João Bosco.
Resumindo: a música de Caetano é totalmente polida, redonda. Nada fora do lugar, mesmo com toda a criatividade, originalidade e até mesmo complexidade de suas composições.
Chico Buarque tem letras maravilhosas, é um grande poeta, e não querendo comparar mas já comparando, ele perde feio (na minha humilde opinião) para Caetano em termo de melodias. Acho algumas canções de Chico muito quadradas, não sei se pelo jeito de cantar um tanto limitado, mas acho algumas bastante retangulares. Eu tenho uma teoria sobre essa limitação melódica de Chico. Ao contrário de Caetano, ele ficou muito tempo preso apenas à bossa nova e ao samba (e as melhores músicas de Chico são seus sambas). Já Caetano absorveu muitos outros ritmos, até porque é baiano, e participou do movimento Tropicalista. Também tem influências nítidas de música latina em geral, como o tango argentino. Até uma canção do grupo grunge norte-americano Nirvana já foi regravada por Caetano Veloso. Tem uma mente totalmente aberta para qualquer ritmo, mas obviamente ele sabe filtrar e diferenciar o bom do ruim.
Caetano é bom porque não finge ser legal, ele é legal quando quer. Caetano é bom porque ele pronuncia MTV em português (emitevê) porque "Estamos no Brasil e eu falo português".
E, só para registrar, o melhor de Veloso: a tremidinha na voz, que mexe na alma!
Vou postar apenas músicas de Caetano esses dias aqui no Sustenido. Uma espécie de Especial Caetano Veloso, já que ele é meu compositor brasileiro preferido. E irei analisar as letras quando necessário.
PODRES PODERES- Caetano Veloso
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Motos e fuscas avançam os sinais vermelhos
E perdem os verdes somos uns boçais
Queria querer gritar setecentas mil vezes
Como são lindos, como são lindos os burgueses
E os japoneses mas tudo é muito mais
Será que nunca faremos senão confirmar
Na incompetência da América católica
Que sempre precisará de ridículos tiranos?
Será, será que será que será que será
Será que esta minha estúpida retórica
Terá que soar, terá que se ouvir por mais zil anos?
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Índios e padres e bichas, negros e mulheres
E adolescentes fazem o carnaval
Queria querer cantar afinado com eles
Silenciar em respeito ao seu transe , num êxtase
Ser indecente mas tudo é muito mau
Ou então cada paisano e cada capataz
Com sua burrice fará jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades , caatingas e nos gerais
Será que apenas os hermetismos pascoais
E os tons e os mil tons, seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão dessas trevas e nada mais?
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome, de raiva e de sede
São tantas vezes gestos naturais
Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo
Daqueles que velam pela alegria do mundo
Indo e mais fundo tins e bens e tais
Será que nunca faremos senão confirmar
Na incompetência da América católica
Que sempre precisará de ridículos tiranos?
Será, será que será que será que será,
Será que essa minha estúpida retórica
Terá que soar, terá que se ouvir por mais zil anos?
Ou então cada paisano e cada capataz
Com sua burrice fará jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades, caatingas e nos gerais
Será que apenas os hermetismos pascoais
E os tons e os mil tons, seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão dessas trevas e nada mais?
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome de raiva e de sede
São tantas vezes gestos naturais
Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo
Daqueles que velam pela alegria do mundo
Indo mais fundo
Tins e bens e tais
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Em Podres Poderes, eu percebo mais do que nunca a versatilidade de Caetano, musicalmente falando. A música é bastante animada, até dançante. Aproxima-se do Samba-rock, mas não é exatamente isso. Ouço trompetes ao fundo da música, que também tem solos de guitarra.
Sobre a letra, acho interessantíssima. Claramente, ele fala sobre a situação social brasileira, que está estagnada desde sempre. Experimentamos tudo de ruim, a Ditadura Militar, o fascismo de Getúlio disfarçado de populismo, e agora o pior: a "democracia" capitalista. Nada deu certo neste país, porque estamos intrinsecamente subjulgados pelos "podres poderes" norte-americanos. Eu quero é mandar a Alca para o... como diz Hugo Chávez: Alca Alcarajo!
Uma das maiores causas disso tudo é o histórico corrupto dos políticos brasileiros, desde os portugueses aproveitadores que aqui chegaram em 1500 até os nossos contemporâneos, Roberto Jefferson, Sarney, e todos os nossos conhecidos. Não sei se vocês leram o texto que postei aqui há alguns dias "Por que somos corruptos?"... Ele talvez explique parte dessa problemática. As pessoas já têm uma ideologia plantada em suas mentes: político é necessariamente corrupto, política é profissão para ganhar (roubar) dinheiro fácil. É assim que as pessoas pensam, por isso nada muda. Essa mentalidade precisa ser modificada antes que seja tarde demais. Porque é ela que faz com que apenas homens corruptíveis queiram exercer a política, efetivamente falando.
HÁ GENTE PASSANDO FOME, HÁ GENTE MORRENDO SEM PODER PAGAR HOSPITAIS, E OS HOSPITAIS PÚBLICOS SÃO UMA MERDA!
HÁ GENTE MATANDO POR DEZ REAIS, HÁ GENTE VENDENDO DROGAS ILEGALMENTE PARA SE ALIMENTAR DO DESESPERO ALHEIO, HÁ GENTE QUE ABUSA DE CRIANÇAS E NÃO VÃO PARA A CADEIA, PORQUE A JUSTIÇA BRASILEIRA É PÉSSIMA!
HÁ INOCENTES NA CADEIA E POLÍTICOS E BANQUEIROS DESONESTOS LIVRES E SOLTOS.
AINDA EXISTE ESCRAVIDÃO NO NORTE DO PAÍS, HÁ GENTE QUE GANHA MENOS DE UM SALÁRIO MÍNIMO, HÁ GENTE COMENDO UMA CUIA DE FARINHA COM ÁGUA POR DIA!
VAMOS ACORDAR!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Pronto, disse. Obrigada, Caetano, por me proporcionar esse momento de desabafo.
Voltando à letra da música, outra coisa bastante criativa é o uso de termos como "tons", "bens", "hemertismos pascoais" fazendo referência a grandes músicos brasileiros (Tom Jobim, Jorge Benjor, Hermeto Pascoal), coisificando tais com respeito, apenas para exemplificar os poucos bons frutos dentro de um país tão mal-tratado, de um povo que é feliz de teimoso, que é lutador, mas que precisa deixar de ser manipulado por uma elite persistente e suja para que comecemos a pensar melhor, reclamemos direitos e para fazermos do país um lugar mais justo e com menos desigualdades.
O compositor também aplaude a diversidade: negros, brancos, índios, bichas, mulheres. Diz que o carnaval é bom, mas que não pode ser motivo de cegueira.
"Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome, de raiva e de sede
São tantas vezes gestos naturais..."
Está aí uma ótima questão que Caetano coloca: Hoje em dia matar de fome, de raiva e de sede se tornou algo muito natural, retornamos ao estágio puramente animal por falta de humanidade, por falta de dignidade, por falta de respeito, e por causa de muita, muita ambição. Enquanto alguns quiserem ficar podres de ricos, nunca haverá igualdade.
Como minha professora de filosofia fala: Esses homens que aí estão no poder não tem poder verdadeiro. O poder só é verdadeiro quando alguém o tem por sinceros votos, por sincero querer dos que o concedem. Um ditador, por exemplo, não tem poder. Tem força apenas, se tivesse poder, não precisaria usar da violência para nada, porque ninguém estaria contra este.
E, por último, Caetano pergunta:
"Será que essa minha estúpida retórica
Terá que soar, terá que se ouvir por mais zil anos?"
Será? Depende de nós.
sexta-feira, junho 23, 2006
Emoções banalizadas
O que me deixou besta foi ver gente bebendo cerveja olhando o desenrolar dos fatos, como se fosse aquilo, por si, um jogo de futebol, entretenimento.
Esse tipo de coisa acontece todos os dias. Em todo o mundo, mas em diferentes formas. Ligamos a TV e vemos uma guerrilha em plena São Paulo, puro terrorismo (como aconteceu há pouco tempo) e muita gente se diverte com o fato, porque é "emocionante".
As pessoas vão para as boates (não que essa ação seja necessariamente ruim em si mesma) para ficar com "quantos aparecerem" porque é "emocionante". É a busca desenfreada por sexo sem sentido, casual. Algumas pessoas me chamariam de careta novamente aqui. Sem problemas. Não vejo problema em alguém querer prazer ocasional, mas quando isso se torna um vício e uma atitude totalmente irracional, é desprezível, lamentável. A mente é tão brilhante para não ser usada...
Soldados americanos torturam reféns iraquianos porque é "engraçado"... para alguns deles, "emocionante".
Alguém é assassinado na esquina da sua casa e você esquece no dia seguinte, porque situações como essas são coisas do "cotidiano", são acontecimentos que fazem "sair do marasmo".
Sim, estou sendo irônica, todos esses pensamentos acima são tão infantis, mas acho que os adultos vivem disso. É triste.
Lembrei do filme "O Vento nos Levará", que critica tudo isso de forma sutil, mostrando que as verdadeiras emoções (sentimentos) são mais silenciosos, mais calmos. E não por isso menos intensos.
ENFIM, falei tudo isso porque:
Li um trecho do livro "Culto da emoção" do filósofo Michel Lacroix, e achei sensacional, genial, muito interessante. Leiam, por favor, o trecho abaixo. Não se arrependerão. Espero que se interessem. É bastante reflexivo.
"Dos esportes deslizantes às raves, dos videogames à encenação da atualidade, das novas terapias às técnicas de desenvolvimento pessoal, hoje em dia, tudo pretende nos fazer "vibrar". As aventuras radicais, a violência banalizada, os estados de transe e as imagens de tirar o fôlego são os ingredientes de nossa vida, que reclama doses crescentes de adrenalina. Assim, em busca de sensações fortes, o indivíduo moderno emociona-se muito. Mas, será que sabe sentir? Cada vez mais agitado e cada vez menos sensível, por que terá ele abandonado as emoções serenas? Eis o cúmulo do paradoxo: no momento em que triunfa e se torna objeto de um verdadeiro culto, será que a emoção tomou irremediavelmente o caminho do delírio?"
(O culto da emoção - Michel Lacroix)
Quero comprar esse livro assim que possível. Dica de site onde pode ser encontrado: http://www.siciliano.com.br/livro.asp?tema=2&tipo=2&clsprd=L&id=685040&orn=BMV
E nas melhores livrarias.
Palavras do meu amigo Fabio Oliveira, sobre este trecho do livro:
"É estranho tratarmos e explorarmos a emoção como forma de alcance de felicidade, ainda mais quando nos deparamos frente a tudo isso que é colocado como formas objetivas e bem definidas do que devemos ou não fazer.
Até que ponto estamos buscando uma emoção efetivamente confortante e particular?! Até quando estaremos submetidos e ajoelhados perante a manipulação de nossos desejos e anseios?!
Desejo que meu desejo seja inalterado, e que a emoção seja emocionante e eterna enquanto dure... que ela dure enquanto rasteja e dá seus últimos suspiros e agoniza diante de tanta futilidade."
quarta-feira, junho 21, 2006
Mestre Cartola disse...
Falou e disse. Pelo menos no meu caso serve...
terça-feira, junho 20, 2006
Tristeza
Esses dias têm sido muito estranhos. Meus amigos foram acometidos por coisas chatas, estão tristes... E entrando nessa atmosfera fico muito mais suscetível.
Mas decepções pesam. Pesam e doem. Já estou livre das decepções de um passado bem distante. Dessas já me livrei de forma segura e agora... indiferente. Felizmente não posso e nem deveria chorar pelos erros dos outros. Durante muito tempo eu senti saudades mas nesse momento e para sempre... Não sinto (nem sentirei) mais nada. Porque não foi um erro, foi uma bola de neve, foi uma hipocrisia gritante, sofrida: eu aposto. Não estou falando de mim. O peso na consciência de uma pessoa assim pode não existir? E se não existir, que tipo de pessoa é?
Eu amo as pessoas de verdade, dou tudo de mim... Inclusive, falo de amigos também. Tudo que recebo é uma indiferença extremamente suportável. Sim, eu suporto muito bem. Porque tenho vasta experiência com pessoas. Sinto-me com muito mais idade, como se eu já houvesse percorrido o mundo e conhecido todo o tipo de gente. E, se por um lado conheci a desgraça, por outro conheci a pura graça. Não espero pessoas perfeitas para mim ou para o mundo, nem procuro ver as coisas apenas pelo meu lado ou pela minha subjetividade. Se assim o fosse, eu odiaria todas as pessoas do mundo. Não posso ser idiota assim. Nada é tão padronizado.
Mas sei que existem pessoas maravilhosas e que primam pelo bem estar geral, não apenas indo pelo caminho fácil da comodidade de um ser egoísta. Tenho exemplos muito próximos de pessoas boas. E repito, uma pessoa boa não é necessariamente perfeita. Na verdade, não espero perfeição, só um pouco de amor, amizade, respeito, consideração, preocupação sincera. Isso existe. Não é tão comum, mas existe. Como eu estava dizendo, tenho exemplos nítidos, conheço pessoas incríveis. Não cheguei a essa conclusão porque tais me tratam bem ou não. Estou dando exemplo de gente com quem não tenho sequer intimidade. Tratam-me bem, mas se tratassem qualquer pessoa com hostilidade, desonestidade, violência ou máscaras, eu ficaria tão chateada quanto se fosse comigo. Não é justo ver as coisas só pelo meu lado.
O que quero dizer e o que confesso é: eu espero muito das pessoas porque sei que elas podem ser melhores. É tudo comodismo ou ilusão. Ou ainda e até principalmente, egoísmo demais. Essa é a causa primeira de todos os males da humanidade. E mais ainda: não espero que as pessoas sejam boas só comigo, mas com todos. Eu espero que o muçulmano trate bem o judeu e vice-versa. Não importa que seja do outro lado do mundo, eu não preciso saber, só queria que acontecesse naturalmente. Eu queria um mundo melhor na esfera humana (porque o resto da natureza é perfeita) não só enquanto eu vivo, não só por mim, mas por todos. Desde sempre, continuando depois que eu morrer, e se estendendo para o infinito.
Neste sentido, sou uma sonhadora. Mas não gosto deste termo, então prefiro dizer que sou uma agente da práxis (parto para a ação). Nem sempre fui assim, como já falei milhares de vezes por aqui. Já exaltei demais minha parte ruim em outras épocas. A maioria das pessoas tem o bem e o mal dentro de si (nem todas, pois algumas só tem OU um OU outro) e eu tinha um pouco dessas coisas ruins que agora estão na moda. Mas alguns indivíduos apareceram na minha vida e me fizeram mudar, para melhor. Tenho certeza de que para melhor. Continuo cheia de defeitos, mas muitos se evaporaram. Cheguei a um estágio de porquês imensurável. Não entendo tudo e muito menos tenho respostas para todos, mas questiono tudo e pergunto: por que? por que tal pessoa age assim? Pergunto isso a todo momento, e também me pergunto: Por que eu estou agindo assim?
Clarice Lispector tem uma passagem famosa em que diz que viver ultrapassa todo o pensar, que basta sentir, algo assim. Li esse fragmento da escritora em algum lugar. Eu discordo. Sentimentos enganam. São maliciosos. Entendam aqui sentimento como sensações próprias de um momento fugaz - e não sentimentos concretos e verdadeiros.
Às vezes a razão salva tudo. Hoje em dia eu dificilmente me impressiono com alguma coisa. Tudo para mim é explicável, e isso não faz da vida menos emocionante, pelo contrário.
Porém, hoje eu estou triste e chorei muito, muito. Desde ontem à noite sinto algo ruim, que não sentia há tempos. Claro que tem a ver com pessoas. Elas são o único mal. Quando poderiam ser o único bem.
Algo que me deixa triste é ver pessoas que eu acho que me conhecem falando coisas sobre mim sem o mínimo embasamento, falando por alto, ou julgando pelo momento. Por exemplo, estou de mau humor. Alguém chega e diz: A Valéria é uma pessoa tão mal-humorada...
Isso me irrita. Não é justo fazer essas noções sobre ninguém.
Pensei em dizer: saiam daqui, não falem comigo, estou em fase depressiva e não sei quando vai terminar. Não sei mesmo, mas algo me diz que nunca mais entrarei em depressão de novo, como há anos atrás aconteceu uma vez. Nem quero, por favor. Acho que é só aquela coisinha chata chamada tristeza.
segunda-feira, junho 19, 2006
São João!

Nesse clima de Copa do Mundo de Futebol (aliás, que jogo excitante ontem, hein?), outra festa, mais tradicional ainda, vem sendo ofuscada. Refiro-me ao festejo de São João e festas juninas em geral.
Aqui no Maranhão essa tradição é bastante forte. É minha festa folclórica preferida, e o leque de opções que existe na cidade de São Luís é empolgante. Bumba-meu-boi (o melhor para mim), Tambor de crioula, Cacuriá, Quadrilha, Dança do coco, etc.
Acho de extrema importância dar valor a essas culturais locais. São tão bonitas, antigas e ricas. É triste quando as pessoas só valorizam o que vêm de fora. Ontem fui pela primeira vez este ano a um arraial. Foi muito divertido, comi comida típica, dancei boi barrica (adoro! e eu danço direitinho, tá?) e ainda tirei fotos. Algumas aqui.
Tambor de Crioula. Muito massa as senhoras dançando e rodando feito loucas :)
Cacuriá
Vista do arraial (Arraial do Maranhão, São Luís shopping)
Caboclos (acho que é isso o nome) de um dos bois que esqueci o nome -_-
Outro boi