sexta-feira, junho 23, 2006

Emoções banalizadas

Na última terça-feira, no dia do jogo do Brasil, eu estava indo à casa da minha tia para ver o jogo e no caminho deparei-me com um monte de gente no meio da rua, bombeiros, policiais. Alguém havia sido atropelado. Um cara estava jogado no chão. Mas tudo mais parecia um espetáculo, um grande acontecimento. Disse para minha mãe acelerar o carro e não ficar dando manchete para tragédias alheias como se fosse divertido.
O que me deixou besta foi ver gente bebendo cerveja olhando o desenrolar dos fatos, como se fosse aquilo, por si, um jogo de futebol, entretenimento.
Esse tipo de coisa acontece todos os dias. Em todo o mundo, mas em diferentes formas. Ligamos a TV e vemos uma guerrilha em plena São Paulo, puro terrorismo (como aconteceu há pouco tempo) e muita gente se diverte com o fato, porque é "emocionante".
As pessoas vão para as boates (não que essa ação seja necessariamente ruim em si mesma) para ficar com "quantos aparecerem" porque é "emocionante". É a busca desenfreada por sexo sem sentido, casual. Algumas pessoas me chamariam de careta novamente aqui. Sem problemas. Não vejo problema em alguém querer prazer ocasional, mas quando isso se torna um vício e uma atitude totalmente irracional, é desprezível, lamentável. A mente é tão brilhante para não ser usada...
Soldados americanos torturam reféns iraquianos porque é "engraçado"... para alguns deles, "emocionante".
Alguém é assassinado na esquina da sua casa e você esquece no dia seguinte, porque situações como essas são coisas do "cotidiano", são acontecimentos que fazem "sair do marasmo".
Sim, estou sendo irônica, todos esses pensamentos acima são tão infantis, mas acho que os adultos vivem disso. É triste.
Lembrei do filme "O Vento nos Levará", que critica tudo isso de forma sutil, mostrando que as verdadeiras emoções (sentimentos) são mais silenciosos, mais calmos. E não por isso menos intensos.


ENFIM, falei tudo isso porque:

Li um trecho do livro "Culto da emoção" do filósofo Michel Lacroix, e achei sensacional, genial, muito interessante. Leiam, por favor, o trecho abaixo. Não se arrependerão. Espero que se interessem. É bastante reflexivo.


"Dos esportes deslizantes às raves, dos videogames à encenação da atualidade, das novas terapias às técnicas de desenvolvimento pessoal, hoje em dia, tudo pretende nos fazer "vibrar". As aventuras radicais, a violência banalizada, os estados de transe e as imagens de tirar o fôlego são os ingredientes de nossa vida, que reclama doses crescentes de adrenalina. Assim, em busca de sensações fortes, o indivíduo moderno emociona-se muito. Mas, será que sabe sentir? Cada vez mais agitado e cada vez menos sensível, por que terá ele abandonado as emoções serenas? Eis o cúmulo do paradoxo: no momento em que triunfa e se torna objeto de um verdadeiro culto, será que a emoção tomou irremediavelmente o caminho do delírio?"
(O culto da emoção - Michel Lacroix)

Quero comprar esse livro assim que possível. Dica de site onde pode ser encontrado: http://www.siciliano.com.br/livro.asp?tema=2&tipo=2&clsprd=L&id=685040&orn=BMV
E nas melhores livrarias.



Palavras do meu amigo Fabio Oliveira, sobre este trecho do livro:
"É estranho tratarmos e explorarmos a emoção como forma de alcance de felicidade, ainda mais quando nos deparamos frente a tudo isso que é colocado como formas objetivas e bem definidas do que devemos ou não fazer.
Até que ponto estamos buscando uma emoção efetivamente confortante e particular?! Até quando estaremos submetidos e ajoelhados perante a manipulação de nossos desejos e anseios?!
Desejo que meu desejo seja inalterado, e que a emoção seja emocionante e eterna enquanto dure... que ela dure enquanto rasteja e dá seus últimos suspiros e agoniza diante de tanta futilidade."

4 comentários:

Anônimo disse...

ai ai... =)
Me sinto tão confortável e tocado em saber que existem pessoas no mundo que compartilham dessa noção do que seja 'sentir'.
=)
Beijos

Anônimo disse...

Não sei posso estar errado mas acho que o "sentir" é algo pessoal ,e cada individuo chega ao estado do "sentir" na "intensidade" que le é agradavel ,só que muitos perdem essa sensibilidade de se alto conhecer e acaba banalizando o proprio "sentir" , deixando ser algo somente relacionado a adrenalina , sendo que pra mim o calmo me faz poder sentir melhor o momento a coisa em si , só que volto ao que falei no começo cada um é cada um .

Bom acho que vai entender o que eu quis dizer rss ou não hehehe

mas resumindo concordo um pouco com o ponto de vista colocado no post


haaaaa e te adoro viu rss

Bjokas do fefê

Anônimo disse...

Claro que sentir é algo pessoal, mas mesmo dentro da variação de cada indivíduo as emoções são banalizadas e manipuladas por forças exteriores, supostamente invisíveis. Mas totalmente enganadoras.

Anônimo disse...

ola, eu li algo sobre michel lacroix e me interessei, pesquisei e cheguei aqui... gostei muito dos seus textos, e concordo com boa parte. A filosofia dele 'e exatamente a realidade que vivemos atualmente. Queria ler mais coisas, se vc souber de algum site que se refira a ele gostaria de ser informada...

obrigada

blackstrangecat@hotmail.com