

Eu gosto do Chico. Por quê?
Sim, o compositor é superestimado...mas, e daí? Ele merece. Conheço pessoas fanáticas pelo mesmo, eu não. Admiro apenas. Não conheço metade da vasta obra (um dia eu consigo).
A voz dele nem é boa. Transforma-se. Ele é daqueles que, em uma música, coloca no mínimo dez acordes, em média. Dos mais complicadinhos. Sobre as letras, comentários são dispensáveis. Sem falar que li um livro dele apenas. Preciso de todos, todos. É literatura de alto nível.
Uma coisa que acho de impacto esmagador na rica personalidade de Chico Buarque é o fato de que ele gosta de carnaval. E é intelectual. Não pseudo. Ele é muito inteligente. Informado e politizado. E tem um amor muito particular pelo carnaval brasileiro. Pela cultura brasileira em geral. Fala várias línguas, não nega curiosidade por outras nações. Mas não troca o Rio de Janeiro por nada (eu também não trocaria). Ótimo para calar a boca de muita gente que diz que só ''o povo ignorante'' gosta de carnaval.
Em análise: Cálice, De Francisco Buarque de Hollanda e Gilberto Gil (voz de Chico e Milton Nascimento)
(refrão)
"Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga Tragar a dor, engolir a labuta Mesmo calada a boca, resta o peito Silêncio na cidade não se escuta De que me vale ser filho da santa Melhor seria ser filho da outra Outra realidade menos morta Tanta mentira, tanta força bruta
(refrão)
Como é difícil acordar calado Se na calada da noite eu me dano Quero lançar um grito desumano Que é uma maneira de ser escutado Esse silêncio todo me atordoa Atordoado eu permaneço atento Na arquibancada pra a qualquer momento Ver emergir o monstro da lagoa
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De muito gorda a porca já não anda De muito usada a faca já não corta Como é difícil, pai, abrir a porta Essa palavra presa na garganta Esse pileque homérico no mundo De que adianta ter boa vontade Mesmo calado o peito, resta a cuca Dos bêbados do centro da cidade
(refrão)
Talvez o mundo não seja pequeno Nem seja a vida um fato consumado Quero inventar o meu próprio pecado Quero morrer do meu próprio veneno Quero perder de vez tua cabeça Minha cabeça perder teu juízo Quero cheirar fumaça de óleo diesel Me embriagar até que alguem me esqueça."
Entrando no lado extremamente politizado de Chico, lembro aqui que ele foi censurado muitas vezes durante a Ditadura Militar(1964-1984), pois em suas letras fazia críticas em forma de mensagens subliminares ao regime. Participou ativamente da lutra contra a ditadura.
Uma curiosidade: " Em 1973, a música Cálice, feita em parceria com Gilberto Gil, é proibida pela própria Phonogram. Com medo de represálias, a gravadora desliga os microfones do palco e impede Chico e Gil até mesmo de tocarem a melodia da música." (http://www.paralerepensar.com.br/chicobuarque.htm)Em 1978 chegou a ser detido para prestar depoimento sobre sua participação na Passeata dos Cem Mil e sobre as cenas subversivas em ''Roda Viva''.
E ainda chamam Roberto Carlos de rei. Roberto e a Jovem Guarda tocavam músicas que eram pura cópia do rock inglês (em versões pioradas) e tinham letras alienadas e comportadas (politicamente falando). Enquanto isso Chico (Caetano & CIA) tentava, de alguma forma, abrir a cabeça do público. Questionar. Quem será o verdadeiro rei do Brasil?
Nota1: Para quem não percebeu, Cálice = Cale-se. E Chico é ateu, por isso, resta saber o que ele quis dizer com ''Pai''. Além da óbvia relação com a citação do Cálice Sagrado, da Bíblia.
Nota2: Eu não odeio o Roberto Carlos, é preciso respeitá-lo pela carreira que construiu, claro. Só acho que outra pessoa merecia a coroa.
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