Andei sendo criticada por "prolixidade". O ser prolixo não chega à lugar algum. Eu posso ser detalhista, extremamente filosófica e por isso posso parecer redundante. Mas quando falamos de sentimentos e de pensamentos nossos sobre comportamentos complexos, temos como ser objetivos? Isso não seria reduzir a complexidade de uma personalidade ou de um sentimento? Sim, seria. Eu sou detalhista, mas não redundante. Aliás, a mesma pessoa que me acusa de ser prolixa se disse repetitiva outro dia. Todos repetimos discursos. Por exemplo, todos dizem para alguém, frequentemente: "Você é muito, muito importante para mim". Ou ainda "Eu te amo". Ou ainda "Eu sou objetiva com as coisas." E no dia seguinte diz "Como as pessoas são hipócritas". Nesse sentido, todos somos redudantes. Dizemos as mesmas coisas todos os dias. O que muda, às vezes, é a forma. Então é hipocrisia criticar os outros por redundância, já que todos fazem de vez em quando.
Sobre a falta de objetividade, sim, não sou objetiva. Não no cotidiano. Quando preciso sintetizar palavras num texto jornalístico, por exemplo, consigo fazer, sem muita dificuldade. Mas minha essência é prosa. Não poesia. Mas consigo escrever poemas quando quero. Minha essência é o amor e não a paixão. Mas consigo me apaixonar. Minha essência é detalhista, observadora, coisa de escritora que reflete sobre tudo e sofre de tanto pensar. Eu penso demais. Mas isso é bom, acaba rendendo bons resultados, às vezes. Toda a minha obra artística, que é longa, é fruto disso. Tenho um romance (prosa/livro extenso) de mais de 150 páginas, que escrevi aos 18 anos, à mão. Tenho vários contos e de poemas eu já perdi a conta. Tenho mais de 50 músicas compostas por mim. Tenho roteiros para filmes. Ideias para teatro. Etc, etc.
O mundo hoje anda muito tecnicista. As escolas priorizam o estudo técnico. E as matérias técnicas, como matemática, física e química. Ninguém ensina na escola a respeitar, a conviver, a amar, a observar, a detalhar, a enxergar. O outro e a si mesmo. As pessoas hoje em dia preferem filmes com efeitos especiais a filmes que contem algo de forma mais profunda. Porque todos tem preguiça de pensar, refletir, sentir. Medo também. E o mundo anda tão robótico e calculista que é compreensível que numa sala de cinema, por exemplo, as pessoas continuem nesse ritmo, nesse ritmo frenético e "prático". Como se tudo devesse algo ao prático, ao objetivo. Existe um culto à rapidez, ao mecânico. As pessoas querem engolir as coisas da forma mais objetiva possível, e esse objetivo não é só não sentir mas às vezes também é não pensar. Parecem uns robozinhos que só engolem tudo sem filtro. É sobre isso que discorre o excelente documentário Koyaanisqatsi, que fala sobre a atual mecanização dos seres humanos (veja o trailer abaixo).
Se ser detalhista fosse um problema, se ser "prolixo" no sentido de dizer a mesma coisa de várias formas diferentes, fosse realmente um problema, o que seria de pessoas como Woody Allen, que fala do mesmo assunto na maioria de seus filmes, porém de formas diferentes? Pessoas como Clarice Lispector, que enrola, enrola e é super respeitada e, convenhamos, tudo que ela diz é respeitável e nos faz refletir?! Pessoas como José Saramago, que escreveu um romance chamado "Ensaio sobre a Cegueira", para falar algo que poderia ser dito em dez páginas?! Saramago poderia resumir aquele livro em "A fome, o desespero pela sobrevivência e o ambiente no qual o ser humano está inserido justifica o Naturalismo, acende os instintos mais selvagens e transforma o homem num animal egoísta e mais hipócrita que de costume. O olhar é essencial e está além dos olhos". Eu, Valéria, resumiria aquele livro imenso assim. Mas não, ele preferiu contar uma história. Ele preferiu ser prolixo, complexo, denso, detalhista. Coisa de escritor. Coisa de observador. Coisa de gente que vê pêlo em ovo, alguns diriam. Mas eu diria: gente que vê que um ovo tem várias camadas. Tudo tem camadas e camadas e cada uma delas pode ser explorada por uma ideia diferente. Por um ângulo diferente. Entendam que não ignoro a importância da objetividade. Desde que essa não exclua o ser interior de cada um, a nossa alma, a nossa subjetividade. E se é coisa de gente louca viver usando citações culturais, eu sou muito louca. É natural em mim. Ainda bem.
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