Eu aprendi a amar com Chaplin ou comigo mesma? Uma vez fiz um texto sobre isso num caderno da faculdade, eu sentava nos corredores do CEST, fugindo das aulas de filosofia (eu amo filosofia, mas meu professor era um psicótico) e começava a escrever compulsivamente nas folhas onde deveriam estar as aulas de fisioterapia. Eu sempre fui assim, desde o colégio, preferia ficar isolada num corredor com meus pensamentos e poemas a estar numa sala de aula ouvindo um professor falando uma bobagem qualquer. Porque convenhamos: aprendemos muito na escola, mas professores são frutos de um sistema que também faz "desaprender" - tudo que vai para os livros didáticos passa por uma peneira, pois nem tudo que deveria ser ensinado o é. Não se ensina sobre as (vastas e cortantes) decepções da vida, não se ensina a viver e muito menos a sofrer. Bom, o texto sobre interligações dos pensamentos de Chaplin com os meus eu nem sei se já postei por aqui, mas um dia acho esse caderno.
Amar eu não sei, mas sofrer eu aprendi comigo mesma. Não acho bonito, necessário ou sei lá o que dizem os masoquistas sobre isso. Li um texto do Pe. Antonio Vieira chamado "O Pranto e o Riso", que é de uma profundidade intelectual de assustar. Elaine Araújo, minha professora da faculdade, sempre pedia para fazermos curtas análises sobre os contos que ela sugeria. Esse foi um dos que mais gostei. Nele Antonio Vieira diz que quem chora com lágrimas não é tão triste assim, o mais triste é o que chora calado. Então eu seria um meio termo nesses níveis de alma, já que me considero uma pessoa quase feliz. E o "quase" não é um atraso, o "quase" é um "quase", só falta alguma coisa pequena, não sei exatamente o quê, não sei se é o amor a dois, não sei se é a plena paz de espírito. O importante é que é um "quase lá" e num dia, quem sabe próximo, eu seja "feliz". O fato é que não sou triste, tenho uma alegria, uma vontade, um tesão em viver que só eu sinto, logo não dá para explicar. Até nos momentos mais dramáticos da minha vida, quando pensava em morrer, logo me vinha um medo imensurável de não mais respirar, lamentar, pensar. Até a tristeza é divertida. Pensar (penso, logo existo) é uma honra, uma dádiva que não dispenso.
Assim, vivo para me jogar. Como Clarice Lispector, não tenho medo de penhascos, eu adoro voar. Adoro sensações, cheiros, filmes, sons, imagens, toques, veludo. Cada palavra não dita por mim, acredite, está sendo dita interiormente de forma tão mais profunda em meus pensamentos que seria desprezível dizê-la, colocá-la para fora de minha boca. Sentimentos e sensações são tão mais que isso. O silêncio pode ser tão prazeroso, mesmo a dois, mesmo a três, a vários. Não é à toa que a meditação nos leva a um estado elevado de alma. Tanta gente fala, fala e não diz nada. Comunicar-se é tão maior que apenas falar. Olhares, toques... tudo fala, tudo comunica. A lágrima comunica. O sorriso. Os filmes mudos de Chaplin. Os abraços. Mas para isso, leitor, é preciso ter muito mais que um ouvido e uma audição apurada... é preciso ter uma grande alma, uma profundidade de coração um pouco mais cavada que o normal e uma sensibilidade intensa. Por isso a maioria das pessoas só se comunica com palavras, quando não com violência.
Enfim... eu prefiro ser assim, intensa, destemida, mesmo que meu coração tenha que passar por provas de resistência; pois pelo menos quando eu ficar velha não me arrependerei por não ter tentado. E o amor? eu sei que ele existe porque EU o sinto. ;)
ANÁLISE DO TEXTO “O PRANTO E O RISO” DE PE. ANTÔNIO VIEIRA, POR VALÉRIA SOTÃO FERREIRA.
No texto “O Pranto e o Riso”, do Padre Antônio Vieira, é possível perceber um grande talento literário naquele homem religioso, assim como um forte poder de persuasão. Na sua argumentação, ele foi incumbido de defender o pranto como mais digno deste mundo do que o riso, para a rainha de Suécia Christina Alexandra, em Roma. Ele teria que defender o ponto de vista de Heráclito, que sempre chorava e mostrar porque ele era mais sincero que Demócrito, que ria sempre.
Nessa perspectiva, seu “sermão” faz uma análise dos motivos pelos quais a humanidade ri ou chora. E mostra que, na maioria das vezes, quem ri o tempo todo na verdade está em prantos por dentro e quem chora apenas expressa uma tristeza menos dolorosa. Ele dá argumentos, usando citações de outros autores, como Sêneca, de como o homem que chora é mais sincero e mais humano do que aquele que ri, dadas as condições “desumanas” da humanidade. E termina sua tese com maestria, convencendo os mais sensíveis do poder do pranto e da ambigüidade do riso.
Amar eu não sei, mas sofrer eu aprendi comigo mesma. Não acho bonito, necessário ou sei lá o que dizem os masoquistas sobre isso. Li um texto do Pe. Antonio Vieira chamado "O Pranto e o Riso", que é de uma profundidade intelectual de assustar. Elaine Araújo, minha professora da faculdade, sempre pedia para fazermos curtas análises sobre os contos que ela sugeria. Esse foi um dos que mais gostei. Nele Antonio Vieira diz que quem chora com lágrimas não é tão triste assim, o mais triste é o que chora calado. Então eu seria um meio termo nesses níveis de alma, já que me considero uma pessoa quase feliz. E o "quase" não é um atraso, o "quase" é um "quase", só falta alguma coisa pequena, não sei exatamente o quê, não sei se é o amor a dois, não sei se é a plena paz de espírito. O importante é que é um "quase lá" e num dia, quem sabe próximo, eu seja "feliz". O fato é que não sou triste, tenho uma alegria, uma vontade, um tesão em viver que só eu sinto, logo não dá para explicar. Até nos momentos mais dramáticos da minha vida, quando pensava em morrer, logo me vinha um medo imensurável de não mais respirar, lamentar, pensar. Até a tristeza é divertida. Pensar (penso, logo existo) é uma honra, uma dádiva que não dispenso.
Assim, vivo para me jogar. Como Clarice Lispector, não tenho medo de penhascos, eu adoro voar. Adoro sensações, cheiros, filmes, sons, imagens, toques, veludo. Cada palavra não dita por mim, acredite, está sendo dita interiormente de forma tão mais profunda em meus pensamentos que seria desprezível dizê-la, colocá-la para fora de minha boca. Sentimentos e sensações são tão mais que isso. O silêncio pode ser tão prazeroso, mesmo a dois, mesmo a três, a vários. Não é à toa que a meditação nos leva a um estado elevado de alma. Tanta gente fala, fala e não diz nada. Comunicar-se é tão maior que apenas falar. Olhares, toques... tudo fala, tudo comunica. A lágrima comunica. O sorriso. Os filmes mudos de Chaplin. Os abraços. Mas para isso, leitor, é preciso ter muito mais que um ouvido e uma audição apurada... é preciso ter uma grande alma, uma profundidade de coração um pouco mais cavada que o normal e uma sensibilidade intensa. Por isso a maioria das pessoas só se comunica com palavras, quando não com violência.
Enfim... eu prefiro ser assim, intensa, destemida, mesmo que meu coração tenha que passar por provas de resistência; pois pelo menos quando eu ficar velha não me arrependerei por não ter tentado. E o amor? eu sei que ele existe porque EU o sinto. ;)
ANÁLISE DO TEXTO “O PRANTO E O RISO” DE PE. ANTÔNIO VIEIRA, POR VALÉRIA SOTÃO FERREIRA.
No texto “O Pranto e o Riso”, do Padre Antônio Vieira, é possível perceber um grande talento literário naquele homem religioso, assim como um forte poder de persuasão. Na sua argumentação, ele foi incumbido de defender o pranto como mais digno deste mundo do que o riso, para a rainha de Suécia Christina Alexandra, em Roma. Ele teria que defender o ponto de vista de Heráclito, que sempre chorava e mostrar porque ele era mais sincero que Demócrito, que ria sempre.
Nessa perspectiva, seu “sermão” faz uma análise dos motivos pelos quais a humanidade ri ou chora. E mostra que, na maioria das vezes, quem ri o tempo todo na verdade está em prantos por dentro e quem chora apenas expressa uma tristeza menos dolorosa. Ele dá argumentos, usando citações de outros autores, como Sêneca, de como o homem que chora é mais sincero e mais humano do que aquele que ri, dadas as condições “desumanas” da humanidade. E termina sua tese com maestria, convencendo os mais sensíveis do poder do pranto e da ambigüidade do riso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário