quarta-feira, abril 29, 2009

Curso de Jornalismo

Pra quem não sabe, a dona deste blog trocou a faculdade de fisioterapia pela de jornalismo. Jornalismo, com letra maiúscula. Este sim é um curso que combina muito mais comigo. Primeiro período, ainda.

Já fiz resenhas antes, mas esta é a primeira que faço para a faculdade, mais especificamente para a máteria "Laboratório de Produção Textual".

NÃO COPIE, PLÁGIO É CRIME.

O Alienista
(Machado de Assis)
Resenhado por Valéria Sotão Ferreira

Cultuado como um dos maiores escritores da língua portuguesa e provavelmente o maior nome da literatura brasileira, Machado de Assis foi poeta, dramaturgo, romancista, teatrólogo, contista e jornalista nascido no Rio de Janeiro em meados do século IXX.
Seu estilo mais conhecido é a prosa, na qual começou como romântico e depois firmou-se como realista, sendo o primeiro escritor a lançar uma obra do estilo Realismo no Brasil.

Em "O Alienista" Machado usa do realismo irônico, típico em obras Machadianas, e este conto (que alguns autores consideram como uma Novela) é, por causa deste realismo cortante e direto, considerado a primeira obra do gênero Realista no Brasil. A linguagem ainda é inteligível, apesar da obra ter sido escrita em 1881: Machado sempre esteve "à frente de seu tempo".

É incrivelmente impressionante a tortura psicológica pela qual passam tanto os personagens da obra quanto os leitores desta. Cada trecho surpreende pela genialidade com que Machado rege sua "orquestra" maestral sobre a loucura: O Alienista é um médico dos mais respeitados da época no Brasil, e por ironia do destino - ou da ciência-, vira sua própria cobaia e a maior vítima de sua obsessão pela descoberta da cura da loucura, ou de uma teoria para esta. Também é visível na obra a crítica inteligente (e por vezes negativa) à mentalidade científica da época, visto que no século IXX predominava a corrente positivista - que colocava a ciência como conhecimento supremo e quase que infalível.

Simão Bacamarte, o médico alienista, vivia apenas para a ciência - até sua esposa foi eleita por aspectos anatômicos e fisiológicos, e não por beleza ou amor. Bacamarte estudou na Europa, e mesmo lá foi reconhecido como médico genial. Porém, ele retornou à Itaguaí, sua terra natal, onde casou com D. Evarista e iniciou suas pesquisas sobre a loucura e a saúde mental.
Usando do humor sarcástico, da indução à reflexão, Machado constrói uma maratona ditatorial na cidade de Itaguaí, iniciada por Simão, que dizia que o objetivo da ciência era o mais nobre dos objetivos e por isso ela estava acima até mesmo do bem-estar humano.
Durante uma viagem da esposa e outros próximos do alienista, este começou uma grande caça aos loucos da cidade, colocando todos para dentro do Casa Verde, abrigo que mais tarde viria a ser rotulado de cárcere privado. Passando dos limites do sensato, Simão não se contentou com os loucos e começou a levar até pessoas com as qualidades mentais em equílibrio (ao ver do resto da população) para a Casa Verde. O "abrigo" foi ficando cada vez mais lotado até que 4/5 da população de Itaguaí lá se encontrava.
O terror e o medo, além da indignação por causa de parentes e conhecidos que foram encarcerados, tomaram conta da população, que se organizou para manifestarem-se contra aquela situação - liderados pelo barbeiro Porfírio.
Porfírio tinha, na verdade, a intenção de tomar o poder da cidade, e acabou por consegui-lo. Quando empossado, não teve poder o suficiente, nem atitudes para acabar com a ditadura de Simão. Assim Porfírio foi substituído por outro barbeiro e a cidade tornou-se um caos. Tudo era justificado pela ciência, segundo Simão, que chegou ao cúmulo da frieza quando, depois de ter internado amigos próximos, internou a própria esposa na Casa verde.
Em dado momento da trama, Simão percebe que, estando 4/5 da população local internada na Casa Verde, provavelmente "os loucos" não eram loucos e sim os considerados normais, aqueles sem nenhuma falha moral ou mental. Soltou todos os que estavam internados e internou os aparentemente organizados mentalmente.
Ao final do estudo Simão chega à conclusão de que ninguém é saudável mentalmente, e provavelmente nem ele mesmo. Assim, Machado de Assis conclui de maneira admirável sua crítica à idéia de sanidade mental, quando seu personagem central, Simão Bacamarte, interna a si mesmo, virando seu próprio objeto de estudo e morrendo sem uma resposta final sobre a loucura.



ASSIS, Machado de. O Alienista. Francisco Achcar. Contos de Machado de Assis. 3.ª edição. São Paulo: Objetivo, 1995. pp. 33 - 88.

Um comentário:

Julien Sorel disse...

O Alienista é realmente uma das obras-primas do Bruxo.

Eu acrescentaria a sua exposição o fato de que a obra é um dos mais brilhantes ataques à filosofia de Auguste Comte.