
Por que todos tem que fazer faculdade? Casar? Usar jeans... vestir-se? Atentado ao pudor, diriam para a última questão. "Civilização!" Usar roupa num calor desses lá é civilizado? Mas claro, nós tínhamos que corresponder aos gostos dos nossos colonizadores portugueses, que viviam numa região de clima temperado, algumas vezes, frio. E nós aqui embaixo num calor de 35ºC temos que fazê-lo, usar muitas roupas, porque é o correto. Os índios são uns primatas, uns sem-vergonha que andam pelados, o Big Brother (vide 1984) diria. Mas Renato Russo diria o contrário:
"Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado
De absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal"
"Tudo que é normal". Semana passada fui chamada de "louca" duas vezes na faculdade. Claro que foi num tom de brincadeira, mas sabe quando nota-se uma verdade por detrás? Só porque eu faço tudo ao contrário. Só porque contesto, discordo. Penso diferente, logo, sou louca.
Existe uma letra maravilhosa de Nara Leão para essas situações. Todo mundo faz as mesmas coisas, sempre. Nascemos, e então as meninas são colocadas em vestidos cor-de-rosa; os meninos em macacões azuis. Crescemos, as meninas brincam de boneca, os garotos de carrinho. Vamos para a escola com o intuito de passar de ano, raramente de aprender, sem saber exatamente porquê. Depois passamos madrugadas acordados, estudando para o vestibular, porque é uma obrigação fazer faculdade, ganhar dinheiro e pagar impostos. Depois, todos casam-se na Igreja e é aquela velha história. Mas Nara conseguiu sintetizar de forma fantástica:
"Uma caixa bem na praça, uma caixa bem quadradinha
Uma caixa, outra caixa, todas elas iguaizinhas
Uma verde, outra rosa e uma bem amarelinha
Todas elas feitas de tic tac, todas elas iguaizinhas
As pessoas dessas casas vão todas pra universidade
Onde entram em caixinhas quadradinhas iguaizinhas
Saem doutores, advogados, banqueiros de bons negócios
Todos eles feitos de tic tac, todos, todos iguaizinhos
Jogam golf, jogam pólo, bebendo um bom martini dry
Todos têm lindos filhinhos bonequinhos engomadinhos
As crianças vão pra escola, depois pra universidade
Onde entram em caixinhas e saem todas iguaizinhas
Os rapazes ficam ricos e formam uma família
Todos eles em caixinhas, em casinhas iguaizinhas
Uma verde, outra rosa e outra bem amarelinha
E são todas feitas de tic tac, todas, todas iguaizinhas"
Aí temos a clássica do Belchior. O cara diz tudo nesse trecho:
"Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais..."
Existe aquela do Biquini Cavadão também, ótima banda brasileira, pouco reconhecida. A letra fala por si mesma:
"Janaína acorda todo dia às quatro e meia
E já na hora de ir pra cama, Janaina pensa
Que o dia não passou
Que nada aconteceu..."
"...Janaína é só lembrança de amores guardados
Hoje é apenas mais uma pessoa
Que tem medo do futuro- que aconteceu ? -
Se alimenta do passado"
Não é só uma questão de imitar a cultura norte-americana, até porque isto tudo já estava enraizado na Europa antes de qualquer intervenção dos EUA no resto do mundo. É burrice genética mesmo, falta de reflexão.
Eu quero o meu Vilarejo de Marisa Monte, outros querem a poluição das metrópoles em troca de vida agitada e acabam empobrecendo e adoecendo enquanto comem bobagens e enriquecem os donos de Fast-food... Cada um quer uma coisa, mas todos seguem sempre o mesmo caminho e acabam fazendo as mesmas coisas. Porque na verdade, é tão difícil fazer o que realmente queremos, gastar o tempo da forma que queríamos. E continuamos, assim, sendo moldados por minorias manipuladoras.
Vamos revolucionar, pessoas! Não temos mais tempo.
2 comentários:
acho que o tempo já se foi... não adianta gritar "EVOLUI, PORRA", que elçes não vão ouvir, estão muito bem acomodados assim do jeito que está. "Tá maravilhoso, pra que mudar? Não sou eu mesmo que estou na merda, sem teo que comer. Eu como filé todo dia, já tá enjoando... Esses pobres estão assim porque querem, já deveriam ter feito algo há muito tempo! Não adianta mais chorar."
Nossa geração deve estar perdendo as chances de levantar o mundo. "Jogue uma bomba de hidrogênio nesse mundo e começa tudo de novo, porque eles não souberam aproveitar.
O homem não é dono da natureza.
O branco, o preto, o amarelo, o azul, o roco, o vermelho têm a mesma essencia. Chega de sonhar, um dia vamos ter que acordar... Acordem! Acordem! Lá vem o sol nos engolir, que lindo, olha só o que vocês conseguiram fazer!"
Como disseram uma vez: Parem o mundo que eu quero descer...
Olha aquela criança ali, só pele e osso, e olha aquela, tomando seu terceiro sorvete!
Acredito que não precisamos de tanta perspicácia para compreender as entrelinhas da (des)organização criada por nós mesmos. Um grande poeta diria: "Há tempos o encanto está ausente..". Estamos cegos para a realidade que nos cerca há tempos. Me questiono se estamos ou nos fazemos de cegos. Seria este um estado permanente?
Não sei. A resposta vai de cada um. Da personalidade e dos ideais que carregamos conosco. Da reação que desencadeamos dentro de nós mesmos. Não tenho respostas. Porém estou de acordo com as palavras de um grande escritor português: "Penso que não estamos cegos. Penso que cegamos. Cegos que vêem. Cegos que, vendo, não vêem"
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