O choro é uma antítese. Estou com esta idéia há dias na cabeça: já era hora de escrever.
Em algumas coisas há a necessidade. Em mim há uma necessidade neste momento. Ninguém parece me compreender. É de compreensão que eu preciso, pois não sou louca e quando isto acontecer eu saberei reconhecer. Se eu não sou louca eu posso ser compreendida, meu cérebro tem idéias coerentes, trabalha com eficiência. Eu consigo discenir cores e pessoas e não tenho tendências obsessivas, pelo menos não as de grande porte.
Meus pais são maravilhosos e amorosos mas eles não me conhecem. Eu sei e meus amigos sabem que na maioria das vezes que estou triste pode apostar: meus pais estão envolvidos. Não preciso que ninguém me conheça, mas é uma luta pessoal esta com os meus pais. Eu quero que eles me conheçam... e não só até o suportável, não só o superficial. Até dos meus poucos segredos eles vão ter consciência um dia, aposto que sim.
Talvez eu tenha uma obsessão. Acabei de perceber. Eu tenho uma paixão intensa pela verdade, um compromisso, uma espécie de amor leal. Então não é paixão, certo? Disse isso apenas pelo peso da palavra, mas o sentimento amor é mais forte, apesar de não ter o til.
A verdade é essencial no meu ser. Possivelmente porque tenho experiências ridículas com a mentira, não mentiras minhas, mas dos outros. As pessoas não tem idéia de como a mentira é venenosa, mesmo as pequenas. É o próprio diabo, e olha que há gente boa fazendo apologia aos pecados.
Voltando aos meus pais: eles, assim como a minha irmã e meus tios, meus primos e meus amigos... Enfim, todos que fazem parte da minha vida e que fazem, querendo ou não. Eu quero, sem mais nem menos, que eles me vejam exatamente como eu sou. Quanto mais próxima a pessoa, mais triste eu fico em ver qualquer tipo de julgamento errôneo sobre mim. Não, não é que eu queira uma visão perfeita da Valéria, nem uma imagem amável ou
venerável. Simplesmente assim, como eu me vejo. Será tão difícil? Ou será que na astrologia existe mesmo essa divisão entre o que eu vejo e o que os outros vêem?
O choro é uma antítese. Ah, como eu gosto dessa frase que eu mesma inventei! Sou uma escritora orgulhosa e se não fosse provavelmente não estaria aqui escrevendo. Nem para mim mesma. Pode parecer hipócrita, mas muitas vezes eu escrevo para mim mesma. Eu penso em publicar muita coisa, mas se não gostarem eu não vou me enforcar, eu não sou destes escritores que precisam da opinião dos outros, eu sou ruim ou boa, e pronto. Mas o que importa é que eu gosto do que eu escrevo, inclusive depois de várias vezes lido. Seria incoerente eu mesma não gostar. Eu gosto, e muito. Não escrevo tão bem gramaticalmente ou poeticamente falando, ainda falta prática e tenho apenas 19 anos de idade, mas eu já escrevi um livro e sim... a única obra literária que eu criei eu vou jogar fora, ficou um lixo e é para lá que ele vai. Porém, gosto da maioria das coisas que penso e é disso que estou falando, os específicos não contam tanto assim.
Existe a tese, a antítese e a nova tese. A tese seria o motivo da tristeza ou a tristeza em si, insuportável. O choro é a resposta e não que ele seja grandes coisas, mas pode ser
prazeroso pois, como eu já disse, ele é a antítese = ele ameniza a dor. Quando eu me sinto muito triste ou com muita raiva, quando estou naqueles dias de morte ou quando percebo a maldade do mundo eu choro. Choro e choro muito. Com a maior facilidade: é uma arma, uma defesa. É como se cada lágrima fosse um operário tirando o ferro que machuca de dentro da gente. E quanto mais ferro sai, menor a melancolia. Quem disser que sofrer é bom nunca sofreu de verdade. Então vai melhorando e melhorando. E acaba sendo um prazer em si, o ato de chorar. Até porque, já viram algo mais sincero que um choro? Eu nunca vi, a não ser quando alguém fica olhando para a lâmpada durante segundos sem piscar. Até assim é sincero, porque os olhos precisam da água e lá vai ela.
Espero que entendam, não esqueçam que eu preciso de compreensão. Não estou dizendo que a tristeza é algo bom ou prazeroso, porque eu sou totalmente contra esta teoria. No máximo ela é necessária algumas vezes na vida para que a pessoa saiba diferenciar a alegria da tristeza e saiba valorizar a primeira.
O que eu quis foi apenas demonstrar a importância do choro, deste mecanismo da natureza tão importante e ao qual eu sou tão grata. Se não houvesse choro, como é que seria? Quem iria tirar os ferros do meu coração, quem? Não sei, mas acho que seria uma nova Grande Depressão, como da crise de 1929, porém desta vez constante e que levaria ao fim precoce da raça humana.
Sobre os meus pais e minha família (ah, e meus amigos também) eles foram só um exemplo. É que eu rasgo minha alma e minha mente tentando dar explicações e ninguém entende. Não sou complicada, imagina se fosse. Aí chega a um ponto que cansa e eu perco a paciência. Ontem uma colega de turma me disse que eu transmito uma calma muito boa. Fiquei feliz porque alguém percebeu uma característica real da minha pessoa. Eu sou calma, apesar de escrever. Todo escritor parece ser hiperativo, agoniado, tenebroso. Eu posso ser muito agressiva, como todo mundo pode em estado alterado, mas normalmente sou bem calma, clamo por calma, adoro a calma. A calma é a minha felicidade. Tive vontade de dar um beijo na boca da minha colega por tal sensibilidade e pelo comentário ingênuo, porém feliz e perceptivo.
Ah, eu não gosto de atuar. Esse negócio de que todo mundo atua é tão mentiroso, coisa de escritor também. As pessoas não fazem certas coisas porque simplesmente não se pode tudo e sempre vai ser assim (e as pessoas não querem tudo também, apesar de quererem muita coisa). Se todos fizessem tudo o que quisessem, não sobraria nem um galhozinho sequer na árvore, muito menos esta e nem terra. Não que todos sejam tão ambiciosos, mas se a liberdade total fosse concedida a todo mundo, todo mundo mesmo, os 30% mais ambiciosos, ou até menos, já bastariam para dar fim a tudo que existe. A consciência do todo é a maior liberdade que pode existir. O saber perceber o outro é a maior liberdade digna e vem daí o saber onde parar. E também, os homens são diferentes entre si e muito. Ninguém ama as mesmas coisas ou odeia, ou quer ou repudia. Cada um vê o mundo de uma forma diferente e o lado animal é o de menos. Muita coisa conta mais. Por isso a generalização é ridícula, principalmente partindo de comportamentos muito específicos e raros. "Todo mundo, no fundo, quer ser boêmio". Por favor, esse comentário foi o mais burro que já ouvi. A pessoa se exteriorizou tanto, se incorporou nos outros de forma impiedosa. Se todo mundo quisesse ser boêmio, existiriam mais bares ainda e todo mundo beberia álcool. As prostitutas seriam felizes e reconhecidas. E muitas são tristes e pobretonas, na verdade. Entendem? Como alguém pode estabelecer regras a partir de verdades tão singulares? "Querido, as pessoas são diferentes, entenda isso." Eu deveria ter dito isso ao rapaz.
Eu falei da tese e do meu amado choro, mas não falei da nova tese. Tese-> Antítese->
Tese. Bom, essa é complicada, depende de toda a reflexão que vem junto ao choro, esta também uma das poucas vantagens de ficar triste. A reflexão. Podemos refletir também quando estamos felizes, mas poucos fazem isso. Então que fiquemos um pouco triste para nos tornarmos um pouco melhores.
Minha professora disse para morrermos todos os dias para quepossamos nascer melhores. É, eu gostei dessa proposta e venho fazendo isso desde que percebi que não, não quero ter uma vida medíocre e isso só depende de mim. Mas eu percebi antes de ela falar, claro.
Antes que eu me estenda demais, a nova tese depende do contexto e pronto, isso é óbvio e acho que o leitor já tinha chegado à essa conclusão. Se a reflexão foi positiva, o resultado será alegria e se for negativa... pode ser alegria também, mas o lógico é que seja tristeza e então vem mais choro e mais reflexão. Até que o ciclo feche e um novo inicie.
Não acho que tudo tenha início, meio e fim, não mesmo. Algumas coisas não tem começo, algumas nem começam, ficam só no plano das idéias (mas isso já não é uma existência?). Outras não tem fim, são eternas, para o bem ou para o mal. E outras nem meio tem, coisa esquisita.
Um comentário:
oi val! de repende me peguei pensando em vc (saudade), ent�o resolvi ler novamente seu post pra que eu pudesse fazer um coment�rio... mas n�o sei muito bem o que dizer. o que sei � que vc talvez seja a pessoa mais sens�vel que j� conheci. uma pessoa que procura entender tudo o que se passa em sua volta e o que n�o se passa em sua volta, que se sente profundamente incomodada com o estilo humano de vida, cheio de desigualdades, que procura transparecer o que sente e o que pensa para todos aqueles que se aproximam, apesar de t�mida... pensei muito quando vc falou que quer que os seus pais lhe conhe�am por inteiro... e percebi que eu por muitas vezes me fecho para as pessoas mais pr�ximas, sem saber porque hajo assim, e que isso n�o me faz nada bem. mas nem todos s�o assim como vc, talvez por isso vc seja t�o especial e �nica... gosto muito de vc... gosto mesmo!
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