domingo, agosto 27, 2006

Sophie Scholl

A verdadeira Sophie, juntamente com outros membros da Rosa Branca.




A Sophie do filme, representada por Julia Jentsch.


Li críticas sobre o filme (Uma Mulher Contra Hitler - Sophie Scholl, 2005) um tanto pessoais, que me deixaram bastante irritada. As pessoas costumam generalizar ações tomando por exemplo elas mesmas e quando algo é diferente do usual, normalmente é tachado de mentira, algo falso, hipócrita. Li um comentário ridículo em um blog dizendo que os personagens fizeram aquilo por si mesmos. Perder a própria vida por si mesmo? Em troco de quê? Mal poderiam eles imaginar a repercussão de seus atos, que viria tanto tempo depois. Nunca, jamais, falem baseados apenas em si mesmos. Aliás, essa é uma das leis de qualquer filosofia. Uma lei básica.
A verdade é que a maioria das pessoas se trai o tempo inteiro, trai as próprias convicções por fraqueza, e quando alguém segue a linha contrária parece algo tão inacreditável que dizem "não, essa pessoa não é humana, onde estão suas fraquezas?", como se ser humano fosse ser necessariamente fraco, confuso ao extremo, como se não deixar-se corromper fosse algo impossível. É só querer. Mas, em grande parte, o comodismo acaba falando mais alto.

Claro que é um filme fictício. Claro que tem algo de subjetivo, da visão do roteirista e do diretor. Porém, eles contaram uma história baseada em relatos históricos. E eu simplesmente caí de amores, estou de queixo no chão, extasiada, apaixonada pelos irmãos Scholl. Eu queria dizer algo a eles, não sei exatamente o quê. Sempre quero dizer algo às pessoas, sempre quero agradecer àqueles que vão além do corpinho próprio. E eram tão poéticos!

Atuação incrível de Julia Jentsch, uma atriz que já havia me chamado atenção anteriormente em The Edukators.
O filme é maravilhoso, apesar de muitíssimo lento. Filme para quem se importa com qualquer coisa que não seja o próprio mundo particular.

quinta-feira, agosto 24, 2006

Maria de Verdade


De alguma forma relacionei o maravilhoso filme Abril Despedaçado, de Walter Salles, com a letra de Maria de Verdade, canção igualmente bela, interpretada por Marisa Monte.
Esta composição tem um lirismo ímpar, é pura poesia. Chega a perfumar o ar do ambiente.

Maria de Verdade
Composição: Carlinhos Brown

Pousa-se toda Maria
no varal das 22 fadas nuas lourinhas
Fostes besouro Maria
e a aba do Pierrot descosturou na bainha

Farinhar bem, derramar a canção
Revirar trens, louco mover paixão
Nas direções, programado e emoldurado
Esperarei romântico

Sou a pessoa Maria
Na água quente e boa gente tua Maria
Voa quem voa Maria
e a alma sempre boa sempre vou à Maria
Farinhar bem, derramar a canção
Revirar trens, louco mover paixão
Nas direções, programado e emoldurado
Esperarei romântico

Tou vitimado no profundo poço
na poça do mundo
do céu amor vai chover
Tua pessoa Maria
Mesmo que doa, Maria
Tua pessoa Maria
Mesmo que doa, Maria

Farinhar bem, derramar a canção
Revirar trens, louco mover paixão
Nas direções, programado e emoldurado
Esperarei romântico

Tou vitimado no profundo poço
na poça do mundodo céu amor vai chover
Tua pessoa Maria
Mesmo que doa, Maria
Tua pessoa Maria
Mesmo que doa, Maria
Maria, Maria, Maria...

domingo, agosto 20, 2006

Do you realize?


Nossa. Acho que encontrei a música da minha vida (ou uma das). Eu já a conhecia, mas nem dava bola para tal. Talvez não tivesse prestado atenção ou algo assim. Então um dia desses escutando a música no carro, parei para ouvir a letra direito. Porra (desculpem o palavrão)! Muito, muito boa. É da banda Flaming Lips, que tem uma obra bastante convincente, por sinal. Quero baixar mais coisas deles. Conheci a banda no começo do ano, quando a MTV transmitiu parte do show deles no Brasil.
Somente agora viciei em "Do you realize?" e também passei a valorizar mais a melodia. O "ah, ah, ah" do fundo toca lá no meu encéfalo. Ou será no meu ilíaco? Bom, no coração ela toca. Fundo.

"Você se dá conta de que tem o rosto mais bonito?
Você se dá conta de que estamos flutuando no espaço?
Você se dá conta de que a felicidade te faz chorar?
Você se dá conta de que todo mundo que você conhece morrerá um dia?

E ao invés de ficar dizendo adeus, deixe-os saberem
que você se dá conta de que a vida é curta
E que é difícil fazer as coisas boas durarem
você se dá conta de que o sol não se põe
É só uma ilusão causada pelas voltas do mundo

Você se dá conta
Você se dá conta de que todo o mundo que você conhece morrerá um dia?
E ao invés de ficar dizendo adeus, deixe-os saberem
que você se dá conta de que a vida é curta
E que é difícil fazer as coisas boas durarem
Você se dá conta de que o sol não se põe
É só uma ilusão causada pelas voltas do mundo

Você se dá conta de tem o rosto mais bonito?
Você se dá conta?"

quinta-feira, agosto 17, 2006

Que belo, belo dia!


Heloísa nas ruas de São Luís.



Eis que saio da aula de biofísica às 12:40 já com o pensamento empolgado e eufórico, na expectativa de ver pessoalmente uma mulher que admiro em demasia. Heloísa Helena em São Luís! Foi a oportunidade que eu esperava há um bom tempo. Queria dizer olhando nos olhos dessa guerreira o quanto eu acredito nela.
Não, não sou uma groupie idiota que sai atrás de alguém pela fama. Fui pelo caráter. Pelo futuro de um país. Pela minha esperança e pela esperança de todo um povo. Quem tem alguma sensibilidade sente na alma quando alguém fala com sinceridade. Eu sinto isso em Heloísa como talvez só tenha sentido com duas ou três pessoas além dela.
Às quatro vou para o centro e vejo ao longe bandeiras vermelhas e vozes gritando com fé, vindo na minha direção. Mais precisamente na Rua Grande. Pessoas simples na aparência mas que com certeza têm bastante inteligência para apreciar propostas tão radicais e humanitárias. Um número considerável de pessoas. A rua é comercial, então muitos curiosos se amontavam nas calçadas para ver aquele comício, que muito mais era um protesto do que um comício em si.
Então, depois das primeiras bandeiras, logo à frente da passeata, vejo caminhando naquela rua estreita e de pedras, aqueles cabelos amarrados, a blusa branca, os óculos, o sorriso. Heloísa!
Eu estava na calçada como os outros, para dar passagem ao pessoal do partido. Aceno para ela, que para a minha surpresa veio à minha direção, deu-me um abraço e escutou meus elogios e minha frase: Eu confio em você. "Obrigada, meu amor, muito obrigada".
Aaaaaaaaaaaahhhhhhhh! Muito bom poder ter um contato tão próximo com uma pessoa em que você deposita grande parte da sua fé. E eu realmente confio naquela mulher.

Logo após, arrumei uma bandeira do P-SOL e junto com militantes deste e do PSTU, segui na passeata, muito honrada por sinal. Gritávamos: Maranhão presente, Heloísa presidente!
Ela subiu no carro de som (um carro bem simples, por sinal) e esperou pacientemente todos os candidatos a deputados e outros cargos falarem, enquanto dava autógrafos e chupava uma laranja. Ela estava com a aparência meio cansada, mas não deixou de sorrir um minuto.
A expressão serena e simpática se transformou totalmente quando Heloísa começou seu discurso. Ela fala sério. Quase se esgoela. Perde o fôlego. Transborda emoção.

Foi muito, muito bom. Sem dúvidas, meu voto é para ela. Não pretendo aqui influenciar ninguém. Estou apenas expressando um direito. Só espero que as pessoas estudem os candidatos. E não só as propostas, mas a carreira política de cada um. A ficha é limpa? As palavras são coerentes com as ações? Isso é o que importa.

Frases inesquecíveis:
-"Eu sou socialista. O socialismo é o oposto do que temos atualmente, sua essência é tudo o que diz respeito à HUMANIDADE (eu falei esta palavra junto com ela, pois é mais pura verdade. Por que alguns devem ter mais que os outros? Isso é ridículo, é um crime contra a noção de humanidade). Mas não vou enganar ninguém dizendo que vou implantar um regime socialista no Brasil. Não! Não posso, até porque nenhum país do mundo tem atualmente o verdadeiro socialismo e isso teria que ser uma mudança aceita pela maioria."

-"Eu sou mulher de VERGONHA NA CARA E AMOR NO CORAÇÃO!"

-"Tem gente dizendo aí que só gente culta e com estudo votaria em Heloísa Helena. Isso é um grande preconceito. Vamos provar que o Nordeste pensa!"

-"Eu respeito e sei da importância de cada deputado, senador, parlamentar. Todos colaboram. Mas (ao contrário de Lula), se eu tiver a honra de chegar à presidência, durante o meu governo EU VOU GOVERNAR (batendo no peito)!"

Esta última frase me deu um alívio tão grande. É essa descentralização de governo que engana o povo (que mal sabem para que servem tantos cargos) e impede que vejam os verdadeiros culpados de mensalões, sanguessugas e outras ilegalidades tão conhecidas por nós. Precisamos de um líder mais convicto, menos inseguro, mais presente, com mais personalidade. Que saiba ouvir mas que tenha capacidade de pensar e de não se corromper, de não entrar no sistema de fraudes apenas para se manter no poder. Temos que pensar nisso. Lula é um covarde, talvez não um ladrão, mas um cúmplice. Um traidor de princípios.

terça-feira, agosto 15, 2006

The long and winding road


Adoro essa música. A letra é bonita, mas o que me emociona mesmo é a melodia, o arranjo perfeitamente elaborado, sublime. Minha alma se derrete ao ouvi-la. A voz do Paul encaixa perfeitamente, me dá calafrios, enfim...

The Beatles - The Long and Winding Road
Composição: Paul Mccartney e John Lennon

A longa e sinuosa estrada que conduz até sua porta,
Nunca desaparecerá.
Eu [já] vi aquela estrada antes,
Ela sempre me conduz até aqui, me conduz até sua porta.

A selvagem e tempestuosa noite que a chuva lavou,
Deixou uma poça de lágrimas chorando pelo dia.
Por quê me abandonar parado aqui?
Deixe-me conhecer o caminho.

Muitas vezes eu estive sozinho e muitas vezes eu chorei.
De qualquer modo, você nunca saberá
Os muitos caminhos que tentei.
Mas ainda eles me conduzem de volta
Para a longa estrada sinuosa.

Você me deixou parado aqui há um longo, longo tempo atrás.
Não me deixe esperando aqui, conduza-me até sua porta.
Mas ainda eles me conduzem de volta
Para a longa estrada sinuosa.
Você me deixou parado aqui há um longo, longo tempo atrás.
Não me deixe esperando aqui, conduza-me até sua porta.
Sim, sim, sim, sim...

domingo, agosto 13, 2006

Degradação

Por mais belo que o mundo seja
Há espaço para a tristeza
Pouco espaço para a esperança
Tempo encurtado para a infância

Temo ser inundada por esse nojo
Sinto repugnância por esse estorvo:
Tudo aquilo que pela mão do homem passa
Inegavel e tristemente, estraga

Também tenho medo das máscaras
Que confundem-se na transparência do meu ser
Meu olhar te dirá tudo o que queres
E tudo o que não queres saber

Por que o homem se auto-degrada?
Onde andará o respeito por si mesmo
E as virtudes outrora prometidas
Que como a verdade, andam oprimidas!?

Uma erupção de fúria me toma
Posso ser alegre, posso ser humana
Tenho instrumentos de expressão sem veneno
E ainda assim não posso salvar o caráter alheio.

sexta-feira, agosto 11, 2006

O Haiti é Aqui


HAITI

Composição: Caetano Veloso e Gilberto Gil


Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres, são tratados

E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão

Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti

O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal

E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina

111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos

E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti

O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

sexta-feira, agosto 04, 2006

A revolução dos bichos


Normalmente não comento neste blog sobre os livros que leio, porém, alguns me fazem abrir excessão. Acho que que todos percebem que sou bastante crítica, não sei se uma boa crítica, mas sei que procuro analisar todos os lados de qualquer questão. Não obstante, procuro ver também os objetivos do que analiso, pois dependendo da intenção (se esta for clara) do autor da ação/obra minha opinião pode se tornar flexível.
Esta semana tive o imenso prazer de fazer a leitura de A Revolução dos Bichos, de George Orwell. Esta foi minha primeira leitura do autor e tive uma primeira experiência maravilhosa.

Vou confessar algo a vocês. Eu gosto de pessoas que sabem o que querem. Que sabem expressar o que querem. Talvez por consequência disso, gosto que o objetivo da obra de arte que analiso seja bem claro e direto. Desgosto quando autores ou cineastas falam, falam e não dizem nada. Por outro lado, uns não dizem nada (ou seja, não usam diálogos ou não enchem linguiça enganando o público com escritas intelectualmente perversas, tentando parecer difícil) e acabam expressando uma verdadeira mensagem. Assim foi meu contato com o livro de Orwell. Logo nas primeiras páginas eu percebi um senso crítico aguçadíssimo, uma linguagem clara e simples, sem enrolações, sem enfeites extras desnecessários. Ele não tenta parecer um escritor de vasto vocabulário (apesar de que eu não duvido de seus conhecimentos gramaticais, pois o autor estudou em escolas bastante valorizadas e soa como um verdadeiro pensante). Isso já contou pontos positivos para a minha visão sobre o livro, já que o principal objetivo da literatura é comunicar e para isso é necessária a clareza.

Aos poucos, talvez antes da metade do livro, você acaba tendo idéia do foco da crítica. Mas isso não torna o livro previsível, já que a delícia da prosa de George Orwell está em cada linha, independentemente do conjunto. Apesar de que em alguns momentos você possa imaginar mais ou menos o que possa acontecer, sempre há algo de incrível, de sujo (no comportamento dos personagens) , de novo, criativamente falando. Achei o livro bastante criativo. Personagens que poderiam ser humanos na figura de animais. Retratos de uma sociedade corrupta e rotulada. Muitos personagens representam rótulos, mas se você for pela linha da sutileza de Orwell, perceberá que os rótulos são os próprios indivíduos que criam. Hierarquizações baseadas no egocentrismo, na perca da noção de valores.

A Revolução dos Bichos é esplêndido. Uma mostra demasiadamente convincente dos caminhos que levam os homens à corrupção, e daí a outras desgraças piores ainda.
Sim, é uma obra esquerdista, mas que com delicadeza e humanidade (sem radicalismos)
consegue mostrar a realidade crua, pondo em vista o lado perigoso de vários sistemas políticos e de vários comportamentos tão usuais dentro de nosso cotidiano.

Nota: O livro é bem pequeno. Indico para quem não gosta de livros grandes. Fiz a leitura em três dias, mas poderia ler muito mais rápido, já que a história prende demais. Porém, com o início das aulas de Fisioterapia esta abreviação não foi possível. Espero que alguém se interesse, pois gostaria muito de conversar com alguém sobre este livro.