Fecho os olhos e tento lembrar-me daquela manhã na praia. De como palavras poéticas vieram à minha mente quase que instantaneamente e junto com as sensações. Caminhei na vasta extensão da areia, nessas praias maranhenses que têm a maior variação de maré do país. Quando cheguei, o mar quase se encostava às mesas e cadeiras dos bares. Menos de duas horas depois, era necessário andar metros e metros para alcançá-lo. Mas esse é o charme das praias ludovicenses. Esse mistério de ir e vir do mar.
Assim que alcancei as águas, logo me lembrei da paz inevitável que um mergulho pode trazer. Engraçado que fui tomar banho só por tomar, só pela diversão que sempre é um banho de mar ou rio. Mas não posso mais esquecer da paz que esse líquido, salgado ou doce, traz ao meu espírito. Os pés são os primeiros a ter contato com a frieza da água, que logo se torna quente, ou vice-versa. As ondas batem devagarzinho em você. Nas pernas, nos joelhos. Até que seu corpo todo é tomado por esse fluido, na verdade, essa substância tão misteriosa que é a água. Intocável e ao mesmo tempo, capaz de te tocar. Você sente no tato, quase como um abraço. Até a água do chuveiro faz isso, faz cócegas. A água do mar te abraça de vez. Mergulhei. Senti agora minha cabeça explorando aquele universo desconhecido. Aquele contato com Deus, com a natureza. Um contato físico e espiritual. Cada molécula de água ali, envolvendo-me, e eu imersa nelas.O barulho do oceano, inigualável, deixa-me intrigada. Como ele transfere seu som de ondas para as conchas, nas quais crianças encostam seus ouvidos para ouvir o mar, mesmo quando levam as conchinhas para o concreto da cidade?
De repente, olho para o céu. E o azul definitivamente me faz perceber que o divino deve sim existir. Porque o azul é uma cor perfeita. Não é vazia como o branco, mas ao mesmo tempo consegue trazer paz. É um colorido que traz tranquilidade e enche os olhos de admiração. E dali o mar se misturou com o azul do céu. Águas cinza contrastando com azul.
Paz, amor, alegria de viver. Respiro fundo, sinto o momento. Olho para o sol, ele também está ali, por detrás das nuvens. Flutuo nas águas, que me carregam com gentileza. Choco-me contra as ondas, pulo entre elas, abraço-as. Mergulho outra vez, e outra, para sentir aquela energia que me renova a cada vez que tenho essa experiência. Rejuvenesce-me, revigora-me.
Depois de muito meditar e de ter um momento de quase “nirvana”, de ter palavras borbulhando na mente e de me sentir tão conectada à natureza, saio devagar. Sinto-me outra e os problemas parecem pequenos. Meus pés agora fazem o caminho contrário, já com saudades. As espumas das ondas parecem sorrir para mim, belíssimas.
Após isso, sento-me na beirada do mar, no raso, onde olho mais um pouco e medito um tico mais. Depois saio andando e recolho uma conchinha da areia. Eu não queria esquecer esse momento, mas sempre é um momento assim quando entro em águas, doces ou salgadas, repito. De certa forma, sou um peixe. Um peixe que não vai muito à praia, exatamente para não virar algo banal, para saber valorizar. Sinto-me abençoada e viva a cada experiência assim, de extremo contato com o que é vida, com o que é belo. Renasço.
(Texto de Valéria Sotão)