
Alguns artistas são iluminados e tem missões que abrangem e beneficiam muita gente. Quando temos oportunidade de contato com alguns destes seres, não devemos desperdiçá-la...
Não é que eu queira superestimar certas profissões, certas missões e por outro lado subestimar outras. Não. Acho que pessoas de todas as áreas profissionais, sociais e econômicas podem ser iluminadas: um médico que trata e "cura" com amor, um palhaço que faz muita gente rir, um advogado que defende a justiça com paixão. Além de tocar e modificar a vida de muitas pessoas, uma pessoa iluminada, ao meu ver, brilha por si só e transborda virtudes como honestidade, justiça, amor, paixão, compaixão, inteligência, talento, entre outras mil que poderia aqui citar.
No caso de Alanis Morrissette, ela transborda não só essas virtudes como outras infinitas. A luz dela ofusca tudo ao redor... se existe mesmo alma, tenho certeza de que o espírito dela é dos mais elevados dentro deste plano. Não falo isso com pouco conhecimento de causa ou só porque ela é uma pop star famosa mundialmente. Não me deixo levar por poder, fama ou quaisquer desses títulos superficiais. Eu falo isso porque sempre analisei, desde quando comecei a gostar de Alanis, as letras complexas da artista. Estas são de uma qualidade poética, literária e filosófica raramente vista nos dias de hoje. E são também tão viscerais, como se rasgassem o peito e alma. Falam de tudo: amor, ódio, raiva, frustração, paixão, dor, problemas sociais, hipocrisia, sociedade, natureza, consciência ambiental e social, diferenças, buscas. Poderia ser mais filosófica?
Por isso digo que alguns artistas tem uma missão muito importante, que é confortar nas horas de dor, seja por um comediante ou por um pianista. Ou compartilhar sensações, sentimentos. Induzir a reflexão sobre temas variados. Para isso existe a arte: para nos fazer transcender e evoluir. Um dia, todos serão artistas. Acho que será o máximo da evolução. Enquanto não chegamos lá, precisamos observar e apreciar as artes existentes e os seres iluminados que tanto nos ensinam e nos fazem felizes.
Então quando soube do show da Alanis que aconteceria em Teresina, capital do Piauí, estado vizinho, não resisti: eu tinha que ir. Não apreciei tanto os últimos trabalhos da Alanis (musicalmente, as letras continuam geniais), mas por tudo que ela já fez, ela merece ser vista. Vale a pena pagar um ingresso e passagens de ônibus. Até hotel se necessário. E assim foi. Dei meu jeito e através de um contato na internet conheci um cara (muito generoso, por sinal) que aceitou comprar meu ingresso, já que estes não estavam à venda na internet ainda. Reservei um hotel em cima da hora. E, junto com uma amiga, a D., partimos para a aventura.
Teresina é uma cidade realmente quente. Um dos vários taxistas que nos conduziram pela cidade (todos muito falantes e receptivos!) me disse que, em períodos extremos, chega a fazer 48ºC na cidade.
Chegamos no dia do show mesmo, lá pela hora do almoço, tomamos um banho e fomos almoçar no Teresina Shopping. Eu tava passando mal, mas isso não vem ao caso. Até a hora do show eu já estaria recuperada. Pegamos outro táxi e fomos para o outro lado da cidade, buscar nossos ingressos. Quase não achamos a bendita casa, porém no final tudo deu certo.
20h. Lá estávamos nós na fila do show. Havia uma fila mediana, o show mesmo só começaria depois das 23h, todos sabiam. Então fomos umas das primeiras, e, por sorte, encontramos conhecidos que eram praticamente os primeiros da fila. Juntamo-nos a eles. Vi muita, muita gente de São Luís. Inacreditável ver tantos conhecidos assim em outra cidade. Fora os maranhenses que foram e eu não conhecia. Um amigo meu viu a Alanis bem de perto no hotel.
Às 21h10, mais ou menos, abriram os portões e saímos correndo. Era mais pela empolgação, já que o local ainda não estava lotado (só começou a lotar mesmo depois das 22h30). Havia uma área vip em frente ao palco, e eu não estaria nela. Sorte a minha que o palco era alto o suficiente para que todos, independente de estarem na área vip ou na pista comum, pudessem ver Miss Morissette perfeitamente. A tour dela não traz telões. Colei na grade e fiquei na primeira fila da pista. Não saí de lá para nada, não queria perder o lugar. D. foi para a área vip e fiquei com meus outros conhecidos.
Duas ou três bandas locais tocavam em outro palco. O calor era desagradável. Começou a chegar gente e mais gente. Logo a pista vip estava lotado. Entre esse intervalo, duas pessoas que estavam comigo avistaram os músicos da banda da Alanis e foram conversar com eles. Conseguiram. Eu nem vi eles saindo, para ser sincera. Eu mal me mexia, já que uns pirralhos estavam me esmagando, loucos para roubar meu lugar. Mas eu empurrava de volta.
A espera era ansiosa. Meus pés já estavam doendo, pois a viagem foi de quase 7 horas e eu mal dormira. Como havia estado doente durante três dias antes do dia do show, sentia-me fraca. Comi chocolate e bebi bastante água para não ter problemas depois.
23h30. A banda entra. A voz de Alanis ressoa. Ela entra, nem devagar, nem depressa. Sorridente. Muito sorridente. Parecia estar muito feliz por estar no Brasil, em especial em cidades menos conhecidas, longe dos pólos econômicos. Senti a luz: ela é mesmo iluminada.
Em alguns momentos, tive vontade de chorar. Era lindo ver todo mundo cantando coisas tão profundas, e tão íntimas para ela, junto com a mesma. Coloco-me no lugar dela e posso imaginar o quão especial deve ser essa sensação.
A energia de Alanis no palco é espetacular: ela dança, canta, toca guitarra, violão, bate o "cabeção", toca gaita, roda o cabelo, acho que fica tonta. Aí cai no chão. É fantástico. Eu acho que eu, que sou compositora e musicista também, teria mais ou menos a mesma energia no palco. Identifiquei-me ali.
Alanis cantou super bem. Acho que em algumas músicas ela usava uma voz (dela mesmo, gravada precocemente) de fundo, mas só em algumas mesmo. Na maioria deu para notar que era só ela e o microfone. O som estava impecável e a iluminação muito bonita. O cenário da sua tour é simples, mas de bom gosto. Ela, como pessoa, foi super educada, sorridente. Passou uma ótima vibração.
Alguns momentos para mim foram especiais:
-Not As We, pela performance emocionada.
-Head over feet, pois marcou a minha vida, emocionalmente falando. E foi tocando essa música no violão que recebi o primeiro elogio musical de um amigo. Cantei gritando, loucamente!
-Flich, eu não esperava essa música. Não estava no setlist de Manaus. Adoro a letra, ela fala de um sentimento de anos, que ficou reprimido. Alanis ama alguém há tanto tempo... (depois irei fazer um post somente sobre essa curiosidade). Também cantei do começo ao fim.
-You Oughta Know, pela energia do público cantando. Todo mundo adora.
-Tapes, pois é minha preferida do último álbum e eu acho a letra divina.
-So Unsexy: Ficou linda em versão acústica!
-You Learn, pois acho essa letra uma lição de vida, todos cantaram emocionados e a Alanis parecia mais feliz que nunca.
-Ironic, simplesmente por ser um clássico.
-Thank you. Ela saiu duas vezes no palco. O primeiro bis foi com You Learn e Ironic. Eu, que esperava por Thank You (uma das minhas preferidas musicalmente falando, acho aquele teclado lindo), achei que ela não voltaria e já estava ficando um pouco decepcionada... mas... lá vem Alanis de novo, "Thank You". E no final mandou beijinhos sinceros para a platéia.
Setlist:
Uninvited
Versions of Violence
All I Really Want
The Couch 2
Not The Doctor
Not As We
Head Over Feet
The Couch 3
Sympathetic Character
Flinch
Moratorium
You Oughta Know
Tapes
*Set acústico:
Hand in My Pocket
So Unsexy
So Pure
*BIS:
You learn
Ironic
Thank U
Nas últimas músicas, apesar de cansada fisicamente, eu torcia para o show não acabar. Foi muito, muito emocionante. Ver aquela pessoa com quem você se identifica cantando ao vivo para você,para pessoas perto de você. Ouvir ao vivo, ver ao vivo performances de músicas que marcaram a sua vida, com o artista original ali, pertinho. Foi bastante gratificante, valeu a pena. Meus amigos gostaram bastante, todos amaram o concerto.
Enfim, na volta para São Luís, logo no dia seguinte, tive a certeza de que nada foi em vão... e no peito aquela nostalgia imediata.